O Grude e os Cacos

A Itália habituou-nos, como ninguém mais, a dar sempre a volta por cima. Perdeu a Guerra, mas, ao contrário da Alemanha e do Japão, conseguiu um armistício e mudança de campo, em vez da rendição incondicional; com a I República podre e nauseabunda, encontrou uma reestruturação partidária sem os grandes monstros dominadores da Democracia Cristãe do Eurocomunismo a protagonizar; com a crise financeira a espreitar ainda descobriu um Monti salvador, até ele se ter deixado humanamente tentar pelos cantos de sereia eleitorais; e finaliza um impasse de blocos parlamentares com o que parecia impossível e havia sido vocalmente rejeitado por líderes vários, uma coligação das principais forças, numa nova administração congraçadas. O problema é que a solução de Uniões Sagradas serve em estado de guerra com o exterior, mas falha quando a unidade nacional tem a espreitar uma fracção importante que não aceita a coalizão e se mantém como alternativa. Com uma reserva Cinco Estrelas do tipo da de Grillo, se não houver resultados excepcionais ou empenhamento inalterado, fatalmente quem fica de fora surgirá como a novidade salvadora que resta. Por isso o novo Chefe de Governo se impôs um incitamento lettal contra os desmentidos da solidez de um bloco tão pretensamente diversificado e da obtenção de bons indicadores, com prazo marcado para esbater a demagogia que sempre vai adiando a concretização das promessas com boas desculpas. Mas claro que esta ameaça sempre suspensa sobre o Executivo faz, mais do que nunca, os opositores do sistema pensarem que o tempo corre por eles. Até que um (de)grau mais na escalada seja transposto e a Esperança se mude, com armas e bagagens, para os contestatários da pecha mais abrangente - o Regime.
                                                                A Espada de Dâmocles, de Felix Auvray

5 comentários:

  1. rudolfo moreira30/04/13, 15:17

    o Grillo é capaz de não ter paciência para esperar e por isso fazer por cortar o fio

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  2. Sim, Caríssimo Rudolfo, faz parte das alegrias da oposição permanente dizer que os outros são todos farinha do mesmo saco, mesmo quando é verdade e a atitude daqueles parece esforçar-se por lhe sublinhar a razão...

    Abraço

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  3. Este é também um tempo original na História recente, em que vemos a Itália em desacordo com os interesses Alemães, sendo até mesmo vítima dos mesmos.

    Texto muito bom, parabéns!

    Abraço

    http://alaranjamaisazeda.blogspot.pt

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  4. Espero que Letta consiga levar aquele barco tumultuoso a bom porto. Seria uma sinal revigorante para os restantes pigs... quanto ao grilo falante infelizmente não podemos subestimar o fascínio do ser humano por doidos varridos, a História está cheia deles.

    Beijinho querido Paulo

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  5. Muito obrigado, Meu Caro Miguel. Com efeito, no processo de Integração Europeia a Itália alinhou sempre pelo diapasão germânico, prejudicando até o estatuto de "quarto grande" - e terceiro que importasse, pois o Reino Unido era O adversário - em função desse seguidismo. A diferença está em que as decisões, ao menos na aparência, cabiam a um motor dual, o célebre casal franco-alemão, agora dissolvido com o eclipse da França como potência europeia.

    Todos esperamos, Querida Ariel, mas se nem Prodi, que tinha um estatuto mais independente, conseguiu fazer um aglomerado menor entender-se...
    Eu não coloco a tónica das convulsões previsíveis na figura de Grillo, mas na saturação do Povo com uma classe política que se prometeu como renovação e envelheceu a uma velocidade vertiginosa.

    Beijinho e abraço

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