F For Fake

Em dia de aniversário do Grande Homem, é bom ver um Investigador que, sem quaisquer simpatias declaradas, desmantela outro dos mitos em torno do Estado Novo, nomeadamente da inventona dos três Fs que, segundo os detractores, lhe fariam de apoio. O Fado era detestado por Salazar e por teóricos da Situação, por amolecedor do carácter colectivo e indutor de abandonos ao Destino, quando o Poder queria inculcar o esforço ordeiro, consequente e constante. Fátima foi 11 anos anterior à instalação no Poder do Estadista de Santa Comba e, se me parece especulativo dizer, como Fernando Dacosta, que Aquele não acreditava nos milagres respectivos, claro que a movimentação das multidões não quadrava nada nas suas preferências. Restava o mito do Futebol, que, por esta entrevista, vem ser posto em termos correctos. Salazar nunca usou o Desporto como alienação, nem sequer distracção, porque não precisava disso, o seu discurso e a penetração social que ele execia eram estribados em concentração na actividade legal, honesta, tranquila e habitual, não na dispersão pelos espectáculos, pela excitação divisionista da concorrência totalitarizante para além do plano lúdico bem delimitado, ou nas doutrinas de superioridade espuriamente alicerçadas em feitos de compatritas. Se, pontualmente, honrou os que obtiveram êxitos internacionais na Competição, foi para não cair na mesquinhez de não reconhecer mérito excepcional a quem o tem, mas sem jamais cair na construção estatal de ídolos que lhe fizessem fretes de propaganda. Parece-me fundamental a comparação com o que hoje vigora, nem tanto na colagem natural aos triunfadores, mas na tal porosidade entre Política, Futebol e... Media, com abundantíssimos exemplos de transição dos que ganharam notoriedade num desses campos para o outro e por causa dessa primeira centelha de fama. Para além de inocular uma verdadeira capacidade alienante, com a transplantação do Conflito que, em altura difícil para se manter confinado à mesa de jogo partidária do Arco Constitucional, se tenta substituir, em termos de potencial mobilizador, pelo confronto clubista para além do campo, hiperpublicitado em mil e um debates para excitar o pagode.

8 comentários:

  1. rudolfo moreira30/04/13, 15:14

    quem vive de visões préfabricadas de Salazar tem de imaginar que lhe convinham todos os desvios da atenção do povo

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  2. "Em 1975, o estádio [do Restelo] foi mesmo hipotecado e Américo Tomás até teve de intervir, mas nunca encontrei traço de clube de regime." Américo Tomás, em 1975!??? Terá sido gralha do jornal - ou do historiador?

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  3. Quando, Meu Caro Rudolfo, em certo sentido, é o contrário que se verifica: a função educativa e formadora do Desporto, para o Estado Novo, visava um fortalecimento do carácter com vista à acção ordenada e ao contributo gregário, não já ao fomento da passividade e da dispersão.

    Meu Caro Átrida,
    também me saltou à vista esse "gato", mas atribuo a erro de digitação. As tais dificuldades verificaram-se, claro está, na década de 1060, com a consequente intervenção do Pai Thomaz, que lhe valeu ver o nome comunicado ao estádio, anos depois. Avento uma hipótese: talvez a devolução do domínio pleno do recinto date de 1965 e como o 7 está nos teclados mesmo ao lado do 6...

    Abraços

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  4. Pois, é possível. Ainda hoje é comum encontrar pessoas que dizem que o Belém está nas lonas "porque já não tem o [sic] Thomaz".

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  5. A despropósito, o Hotel Pestana D. João II, em Alvor - lugar de triste memória em termos de certo evento nele realizado - tem uma placa evocando a sua inauguração pelo Almirante Américo Deus Thomaz. :-)

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  6. O lugar é Alvor, não o hotel, entenda-se!

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  7. O Venera(n)do Almirante era tão empenhado no teu Clube, de que chegou, parece, a ser dirigente, que A Bola, aquando do falecimento, numa altura em que a Redacção era completamente Vermelha num sentido diverso do benfiquismo, fez questão de demarcar-se do Político, mas render a justa homenagem ao Desportista.

    Não sabia que o Industrial da Hotelaria Domingos Pestana, tão presente aqui em Cascais, se dera a essa tarefa de conservação histórica. Alvor tem destas coisas, outrora conhecido por ter albergado o leito da morte de D. João II, possibilitador da construção do Império, veio também a hospedar o acto final da respectiva obra... enfim!

    Abraço, Meu Caro Átrida

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  8. Vou enviar-te foto por email. Abraço.

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