Estertor na Relva

Pronto, lá se assumiu a morte anunciada, mas compete destrinçar a qualidade de duas teimosias: o Primeiro-Ministro tem muitos defeitos, mas no couraçar-se, mais do que a conta, na defesa do seu colaborador de longa data, ainda há alguma sombra de grandeza, por muito mal empregada que ela haja sido. Mas a do demissionário Relvas, entrincheirado até à última na inexistência de condenações ou avaliações oficiais negativas, pouco menos é que miserável. A sua conferência de imprensa foi mais desgostante ainda. Ao tentar expor algo de bom que no seu desempenho tivesse levado a cabo e não encontrando melhor do que deter-se em estatutos de liquidador da RTP, ou de demolidor à maneira jacobina, das autonomias municipais, quase dava dó, se não se sobrepusesse o nojo. Porém, compaixão mereceu decerto o seu grito para os militantes do próprio partido, falando nos três anos em que fora o primeiro dos peões de brega de PPC, na conquista da liderança e na tomada do Poder, como que a implorar aos seus para, ao menos eles, gostarem dele.
E o Dr. Passos? Se pensa livrar-se de um incómodo permanente, está redondamente enganado. Deixando sair esta diversão permanente que atraía todas as animosidades, fica privado do seu airbag salvador e, doravante, concitará as críticas e escrutínios que a presença da sua abominada eminence grise desviava. A prazo, está condenado e talvez mais curto do que se prevê.
Uma última palavra para o arrancado ao Executivo: não foi a má imprensa que também teve que o perdeu, mas a notoriedade dos seus defeitos a gerá-la e multiplicá-la. Claro que olhando para o que parece ter sido o factor instrumental do seu despedimento, pode pensar na injustiça comparativa de outras batotas académicas. Mas a dura realidade mostra que nem é Sócrates quem quer.

3 comentários:

  1. Pois é, lá se foi o pára-raios, e coriscos, do coelhone :)

    Beijinhos, Paulo.

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  2. Não serei tão generosa quanto o meu querido Amigo, nas motivações do Primeiro-Ministro para o ter protegido para além do limite da decência. Mas talvez seja o azedume que me tolda a visão. Quanto ao resto subscrevo.

    Beijinho

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  3. Se não pára-choques, Querida Cristina!

    Querida Ariel,
    claro que quando sublinhei o que me parece ser a diferença de dimensão das obstinações de PPC e MR, me referia mais à fragrância que exalam do que às recônditas razões do agir profundo do P-M, as quais tenho por pouco acessíveis à nossa consideração. A restante aprovação recompensa-me amplamernte.

    Beijinhos

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