Debaixo D`olho

Dizem que o Poder é o melhor afrodisíaco que há e imagino que o mediático não seja excepção à regra. Mas esse apelo deveria cingir-se à tradicional acção directa e não aos virtuais sucedâneos informáticos que lhe fazem as vezes neste universo maravilhoso a que fomos condenados. Assim, esta nova de um burlão que se finge célebre para conseguir que uma quantidade de Mulheres se dispam frente à webcam deixa-me perdido na interpretação: se o strip é um excitante e a fama outro, não se estará a transformar a vazão da sexualidade num pingpong viciado e em que se não marca o ponto? Este prodígio tecnológico, ao relegar o prazer para o visionamento, não se transformou apenas no fantasma de muito pai de menina adolescente a quem, para este e aquele sentidos o quarto deixou de confinar, subverteu a plenitude do climax, rumo ao enganoso ludíbrio da distância que, fingindo infirmá-la, mais não faz do que sublinhar a solidão dos intérpretes.
                                                           O denominado Telefone Afrodisiaco, de Dali

4 comentários:

  1. caro Paulo. Para muitos, há umas décadas atrás, a plenitude estava no prazer da leitura erótica (em prosa ou por imagens), sendo que se podia estender a visão fotográfica a espécie de companhia semi-imaginária. Hoje a objectividade voyeur está despida de imaginação e sensualidade mas antes bruta e maliciosa. Já não é só a solidão dos intérpretes mas a preversão dos intérpretes.

    abraço

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  2. A única coisa que me ocorre dizer é que são todos uns tristes coitados. Sem imaginação, sem vida própria, sem sonhos.

    Beijinho querido Paulo

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  3. Meu Caro Paulo,

    O tesão - neste caso em apreço, no sentido literal da palavra - por se descobrir o desconhecido ou por se conseguir vislumbrar o que está escondido faz parte da condição Humana (recordo como protestava o meu avô quando as saias das mulheres começaram a "deixar-lhes espreitar o rabo": - "Isto agora assim já não tem interesse nenhum!"). Não fosse o esquema para tentar extorquir dinheiro às Bô Francineides desta vida e sentiria até alguma compaixão pelo sexagenário (para além de só, de pé-na-cova, coitado!). Mas não sejamos ingénuos! Não fosse o dito esquema, e as galdérias continuariam a fingir que acreditavam no falso Mickael do outro lado da linha e a polícia continuaria sem queixosas para poder actuar.

    Um abraço

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  4. E, Meu Caro João, um passo em frente para o abismo do imediatismo grosseiro, acentuado pela mediatização que teoricamente o travaria, para mais dispensando a estilização artística do striptease clássico em que, ai de mim, descortino du bon...

    Sem dúvida, Querida Ariel,
    pelo que me é dado conhecer a arte de desnudar reduzida à retirada da t-shirt em cima dum divã mal amanhado é o supra-sumo da excitação das gentes de hoje!

    Meu Caro Pedro,
    ah, sim, o tornozelo abotinado era um florilégio de alegrias tal que leva muito boa gente a pensar que os Vitorianos a sabiam toda. Aqui o mais engraçado é, realmante, a disponibilidade anunciada das damas, desde que reservada aos holofotes do que estivesse habituado a suportá-los. Uma questão de reciprocidade, enfim. E quanto à Polícia, pobre Corporação, ter de atender a COMEzinhas situações em que, inexistindo Moralidade, ninguém come!

    Beijinhos e abraços

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