Cortes & Costuras

Lá chegou a decisão. Como um tribunal, qualquer que seja o seu nível, é uma realidade não-substantiva, por muito que se ficcione como orgão duma Soberania extinta, parte do espectro partidário que usurpa a voz do País Real vai passar a recriminar a Constituição, enquanto que a outra continuará a vilipendiar o Orçamento. Eu, que me tento distanciar, sou obrigado a dizer mal de ambos. Cá em casa não há funcionários públicos, mas parecia mais que evidente que deixar uma classe inteira a pagar o dobro porque tivera o azar de padecer de um patrão medíocre e explorador, com todas as facas e queijos na mão, até a do capote do interesse geral, não parecia muito saudável. Já se sabe, tem de se fazer sacrifícios, porque o Regime que se alicerçou na demagogia falaciosa de trazer o fim deles foi forçado a deixar cair a máscara. Mas nunca será salvaguardada a proporcionalidade dos ditos enquanto se for à bolsa de inocentes sem castigar os culpados. Só uma violentíssima confiscação da totalidade dos bens e a concomitante condenação a trabalhos forçados perpétuos de todos os que tiveram responsabilidades governativas no descalabro financeiro dos últimos anos poderia legitimar a imposição de restrições menores àqueles que não as tiveram. Como isso é do domínio da fantasia, à imagem da verdadeira Justiça terrena, afinal, há que nos cingirmos ao que é realista - uma ruptura constitucional que não permita a continuação dos cúmplices da derrocada na condução do que se pretende seja uma emenda dela. Os trunfos do sistema esgotaram-se, o que eles pretenderiam edificar não tardará a ruir.
                                                       O Castelo de Cartas, de Chardin

4 comentários:

  1. E que que diz à encenação para amedrontar pategos, com Passos Coelho a ir Belém pela porta das traseiras e marcar uma comunicação (só) para amanhã às 18:00?

    Beijinho Paulo

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  2. Espero pela comunicação, Querida Ariel, mas tresanda a que a dupla PPC&Gaspar foi pedir batatinhas e só terá levado a liquidez da sopa...

    Beijinho

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  3. Credo, Agoirento RAA! Duas e meia, ou três, já são demasiadas!

    Abraço

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