Malhas Que a Vida Tece

Esta peça esclarece muito pouco, desde a misteriosa formulação "identificar que" do título, aos resultados publicados do inquérito. Tenho uma desconfiança de que os perigos aventados pelos jovens correspondem mais aos continuados alertas com que os massacram, do que a percepções geradas sem tais estímulos e por sua exclusiva iniciativa. Mas não é isso que importa. Para mim, a net ocupou o lugar dos espelhos. É perigosa porque reflecte os perigos da vida, pelo que pretendê-la segura será um anseio sem esperança de concretização. E até nos nossos temores diante dela se assemelha aos medos irracionais perante os vidros reflectores, desde a passagem da Morte para nos alcançar, como Cocteau celebrizou, aos mundos fantásticos a que não pertencemos mas em que mergulhamos, à maneira de Alice. A Pornografia e a Violência, parecem-me, assim, menos perigos do que viciações de busca. Já, as emergentes da própria experiência, como mentiras, insultos e quebras de prestígio são as calosidades do atrito da entrada no grupo social, com o habitual cortejo de desilusões. A Rede até pode minorar a insuportabilidade desses percalços, desde que se não permita que a vida em estado de iniciação se detenha demasiado em frente do computador, o que se obterá com a reaplicação da Sabedoria do «ECLESIASTES», quando nos ensina que há um tempo para tudo. O maior problema está na expressão numérica dos envolvidos em caso desses, pelo que urge explicar aos educandos, desde pequeninos, que o número não deve tomar o lugar da Qualidade no açambarcar da importância, coisa que poderá funcionar, igualmente, como vacina contra a Democracia perversa que nos aniquila. Quanto aos contactos com desconhecidos, não fosse ali, noutro sítio seria. E não parece menos problemático passar mais tempo em casa, enquanto os empreendem? Foi a curiosidade que matou o gato, o que talvez não tivesse acontecido se ele a tivesse saciado na INTERNET.
                                              Trabalho de Rede, de Maryann Lucas

4 comentários:

  1. Meu Caro Paulo,

    O título com certeza que justificará a encomenda, e o resto?... palha, muito apropriada a alimentar ruminantes.
    Recuperando a Sabedoria Salomónica - "Às vezes, ouvimos dizer: «Veja: esta é uma coisa nova!» Mas ela já existiu noutros tempos, muito antes de nós." -, sou de opinião que apenas temos a sorte de vivermos em tempos de mais um grande salto evolutivo na facilidade e velocidade a que temos, jovens e não jovens, acesso ao conhecimento. Ora, sendo o conhecimento poder, é natural que o dito quarto, completamente decadente (ai,ai!), se preste a ajudar o instalado a justificar as proibições e controlos que nos vão impondo.
    Quisesse o estudo encontrar os benefícios da net, principalmente dos portais de partilha de vídeos, e tenho a certeza que encontrariam de imediato o exemplo do rapazinho de 14 anos da Marinha Grande, muito mal comportado, que a primeira coisa que fez quando o pai instalou a Internet em casa foi deitar fora Playboys e Penthouses e digitar blowjob no Youtube e que graças a isso hoje é um reputadíssimo mestre vidreiro!

    Um abraço

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  2. rudolfo moreira05/02/13, 15:20

    a nossa camada bem pensante vive de imaginar ameaças e às vezes até acerta

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  3. É bastante óbvio que os meninos e meninas reproduziram os medos e alertas que lhes são transmitidos por diversas vias. A propaganda do medo é muito eficaz.

    Beijinho Paulo

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  4. Meu Caro Pedro,
    de facto, emulando os veículos de informação tradicionais a rede dá cartas, é como a de um arrastão a competir com a pesca das canas - ou canetas - dos jornalistas. E se nada há de novo debaixo do Sol, também o fedelho a que alude poderá, em pleno Youtube, ter desilusões como a que junto:

    http://www.youtube.com/watch?v=FdWYXwjJhAU

    Meu Caro Rudolfo,
    o perigo verdadeiramente real é o que se encontra na canalização da Miudagem para a futilidade e escolha pobre do Divertimento. Tanto dá que se repercuta na navegação deste género, como em formas mais arcaicas de preenchimento dos tempos livres. E a virtualidade até poderá ser um bem, em certos casos.

    Querida Ariel,
    não é? Os paizinhos gostam taaaaanto de ouvir os filhos papaguear o que lhes instilam... Se é uma alegria quando repetem "papá" e "mamã", ao reproduzirem frases e ideias com um simulacro de articulação, upa upa!

    Beijinho e abraços

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