A Noite dos Generais

A ingratidão é um privilégio da Democracia: aos militares devem os partidos o poleiro a que para nossa desgraça se alçaram, mas, quando as dificuldades apertam, os últimos não se coíbem de martelar os pregos que faltam ao caixão do mundo castrense. Nada que me espante. Quando já não há Pátria a defender do domínio externo, administrado que é o território por um governo-drone, telecomandado de fora para atingir os alvos mais diversos por entre a População, por que carga de água deve a Tropa continuar a existir? Costarriquemos o Rectângulo, pois não precisamos de mais que polícia e reforços de protecção civil, dado o conceito de intervenção estar reduzido a diminutas participações em contingentes expedicionários de platónicas vontades, sob o comando de outrem. A decadência começou quando se diluiu a antiga expressão de «Força Armada», acrescentando os ss a substantivo e adjectivo. Seguiu-se a profissionalização. Se é certo que o Serviço Militar Obrigatório foi uma invenção totalitarizante da Revolução Francesa, a eliminação de qualquer forma de conscrição levou a transformar a arriscada carreira num funcionalismo com penacho mais visível, em que a ideia de Serviço ia empalidecendo de ano para ano. Salazar também viveu dias difíceis com a ameaça de rebelião a partir dos quartéis, mas resolveu as coisas, promovendo reequipamentos que elevassem a operacionalidade dos mínimos trágicos a que tinha chegado na Flandres, por obra e graça da República jacobina. Também, numa altura em que o Oficialato era uma elite reconhecível, empregou muitas altas e médias patentes em funções que poderiam ser desempenhadas por elementos doutras proveniências, caso abundassem as qualificações noutros meios. Uma e outra coisa faziam muito mais do que serenar os que tinham a faca e o queijo na mão - davam razões para persistirem no que, doutra forma, não excederia a célebre Miséria Dourada, quer pela noção formadora de um comando abrangente de parte significativa dos Compatriotas, como pelas condições técnicas e materiais de realização proporcionadas. Reduzir à profissionalização paroxística a "recompensa" do conceito põe as Estrelas e Galões perante uma única opção, a de deixarem de ser puxados à trela e, ao invés, comerem o regime para por ele não serem comidos. Mas duvido que lhes restem dentes para tão dura mastigação, suspeito-os de apenas reterem uma placa postiça para arreganhar em jantares como o da notícia...
                                                    O General Júnior, de Thierry Poncelet

4 comentários:

  1. Grande texto, Caríssimo Paulo! Essas jantaradas dos sem-pólvora não levarão a lugar nenhum. Fizeram muita questão em sublinhar a devoção a essa coisa chamada democracia. Deviam saber que o compromisso de um militar digno do nome não é com um regime, mas com a Pátria, com a defesa da sua integridade, física e moral. E o regime que pariram ou trouxeram do lixo há 39 anos a via garantida do suicídio nacional.
    Abraço amigo!

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  2. assim é que é 1 general por companhia

    um coronel ou tenente-cornel por plotão per pluto

    só ares teria ditto melhor ó sottomayor et cardia

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  3. Meu Caro Marcos,
    já sabemos das misérias que renegam as virtudes esperadas nos herdeiros dos Defensores do Reino, desde aprilinos capitães a outros Vassalos de tudo menos da Herança. Poder-se-ia desejar a preservação da Instituição em ordem a redenções, no momento em que novas gerações viessem. Quando Reino já não há, Império ainda menos e começa a rarear a cheta, os cortes são talvez o preâmbulo do apagão radical.

    Abraço amigo

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    1. Dom Pedro o mal cuzinhado27/02/13, 22:10

      ó filho reyno sem cheta e com cheta falsa foi o que mais houve.

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