Sem Emenda

Muitas preocupações tenho visto acerca da revogação da 22ª Emenda Constitucional Norte-Americana, no sentido de remover o limite de duas eleições presidenciais possibilitadas a cada indivíduo. A iniciativa mais recente não tem pernas para andar, porque o Legislador do Bronx Serrano não possui peso para abalos sistémicos deste calibre e porque o processo de adopção de alterações destas, nas duas câmaras e nos estados, é tão exigente que não se vê maneira de vingar. A única esperança seria o facto de os líderes Democrata e Republicano no Senado e o Líder Democrata entre os Representantes, Harry Reid, Mitch McConnell e Stenny Hoyer serem receptivos à modificação. Outrora, o limite de mandatos era uma bandeira da Esquerda, com Jefferson a identificar a sua falta como a «consagração da tirania». Hoje, é um dos pontos de honra dos mais extremados e populistas Conservadores Republicanos, os quais se fazem amiúde eleger com compromissos pessoais de não se candidatarem ao Congresso mais do que X vezes e impuseram limitações de reeleição nas normas de muitas legislaturas estaduais. No que toca à Presidência, sempre se tinha entendido que, entre cavalheiros, haveria a cortesia de não disputar outra eleição depois de dois êxitos, até que Franklin Roosevelt mandou às malvas uma noção tão rarefeita de fair play e abarbatou quatro vitórias. Foi o cansaço transbordado para o seu sucessor Truman que permitiu, com a perspectiva da cavalgada do Herói da Guerra Eisenhower à mistura, a proibição de governações pessoais mais prolongadas.
Os Democratas não esbracejaram demasiado porque não tinham, desde aí, um re-candidato em condições: Kennedy terminou à bala, Johnson nem procurou reeleger-se, chamuscado que estava pelo Vietname, Carter queimadíssimo pelo Irão e a Economia, Clinton pelas conhecidas manchas na roupa, na Ética e na semântica. Obama pouco fez passar da sua agenda, mas, pelo menos, segurou avassaladoramente a popularidade entre as minorias que mais se reproduzem, pelo que isto é mais um combate para o triunfo a longo prazo, quando a configuração do Eleitorado for outra. Não tenho de meter o bedelho na forma como se rege uma casa que não é a minha, quer dizer, a Democracia. Mas parece-me inconsistente com as suas próprias assunções vedar acessos, por fixações arbitrárias de durações inultrapassáveis. Essa opção desmascara a triste essência de regimes que não se baseiam na Escolha, como apregoam, mas na contínua alternância, essa mudança puramente cosmética que perpetua o Poder de tracção dos pretensos progressistas. Daí que a finta de Putin/Medvedev na Rússia, para além de agradável pela humilde disponibilidade para servir em cago hierarquicamente inferior ao que se deteve, me encheu as medidas, ao frustrar as válvulas de segurança da instabilidade que, pelas movimentações menores, se eterniza.

3 comentários:

  1. E não é que acabo por estar de acordo com o meu Querido Paulo? e isso deixa-me um pouco angustiada ...:))

    Beijinho

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  2. Querida Ariel,
    espero que não por ser este Seu pobre addmirador o alvo da concordância, mas porque a proposição que a mereceu Lhe acarrete algum desencanto com a frustração das melhoras esperadas.

    Beijinho

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