Charutada

Há muito que era conhecida a popularidade da ficção de Dumas entre os operários das fábricas de Havanos e a sua consagração nos apreciadíssimos «Montecristos». Mas este excelente artigo traz-nos uma visão um tanto Kapciosa da relação do institucionalizado Leitor nos estabelecimentos fabris com as causas do fermento revolucionário. O Sr. Antoni Kapcia quer fazer-nos crer que o conhecimento de uns quantos Autores de tomo terá aumentado a consciência social indutora da Revolução, logo apresentada como uma coisa eminentemente estimável. Quando, porém, vemos a lista dos Escritores assim propagados, damos com baluartes do anti-igualitarismo, como o Conservadoríssimo Flaubert, o tonitruante Nietzshe, ou os Reaccionários Dostoievski e Balzac, apesar da deformação que Sartre & companhia fizeram dos dois Franceses. O problema foi outro e a explicação surge-nos na Florida, onde, havia muito, comunidades Cubanas imigradas também se dedicavam à confecção de charutos, tendo transplantado para lá o hábito de o fazer ao som da leitura a cargo de um contratado. É que, indo além da chinela que lhe competia, este último se revelava, amiúde, um agitador e, fora da sua incumbência de transmitir as obras primas, excitava os ânimos proletários contra o sistema do País de acolhimento, a pontos de vir a ser interditado, após célebre greve de 1931. Ou seja, não era o lido que funcionava como aguilhão, mas as opiniões e incitamentos emitidos para além dele, sugando-lhe o prestígio que a sua transmissão conferira. E o certo é que por muitos planos quinquenais e suas defesas que passassem a ser lidos na Cuba pré-Castrista, nenhuma dessas duvidosas sagas conseguiu dar-se como nomenclatura de marca com saída comparável à das aventuras literárias que preenchiam o imaginário dos ouvintes. De resto, por simpática que seja a ideia da elevação do conhecimento do Operariado, não embandeiro em arco com a "papinha feita" desta música de fundo, a qual, apresentando-se como meio de suprir as lacunas do analfabetismo, tem o inconveniente de esterilizar a aprendizagem que permita o emancipado acto de ler e a curiosidade devoradora que o torne cada vez mais proveitoso. Mesmo neste irónico ramo de actividade em que nem a predilecção de Fidel diminui a carga emblemática do produto final como o símbolo caricatural do Capitalista mais repulsivo.
                                                        A Fábrica de Charutos, de Ferdi Pacheco

2 comentários:

  1. rudolfo moreira05/01/13, 11:15

    claro que desde que os leitores passaram a ser funcionários do estado e do partido o esttímulo passou a alienação

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  2. Na medida em que esterilize os ânimosa e sensibilidade para a contra-revolução é o mais nocivo dos ópios do povo, sem dúvida, Caríssimo Rudolfo.

    Abraço

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