A Desprezada Herança

Os particulares sofrem o assédio emergente dos balcões compradores de ouro, mas o Estado há muito que está na mira de abutragem cobiçosa das reservas salazarmente acumuladas. Primeiro, tentaram pressionar-nos para que entregássemos parte delas, com o argumento de o III Reich se ter apropriado indevidamente dessa parcela de vil metal. A nossa Diplomacia lá provou que, qualquer que fosse a origem suspeita das barras, tinham entrado em Portugal no âmbito de um comércio legítimo, não estando em causa a boa fé do País, ao ponto de só tardiamente se ter feito uma entrega simbólica, mediante correspondente idemnização pela República Federal Alemã. Depois, tentaram convencer-nos de que gastar as toneladazitas áureas no Desenvolvimento era óptimo para a Economia e a ultrapassagem do caduco espírito de entesouramento. Uma certa porção foi delapidada, mas, por um acesso de sorte paradoxal, as regras monetárias da União Europeia obrigaram a conservar o grosso. Agora, pretendem que seja dado como garantia de empréstimos camuflados sob a designação delicodoce de "emissão de dívida". É remeter os restos da Pátria para a loja de penhores, como tantos idosos sacrificando as recordações preciosas de uma vida ao momentâneo prolongamento da sobrevivência. Mas, no que ao Colectivo que integramos toca, nem isso há a lamentar: há muito que a própria alma já foi vendida por tuta e meia.
                                                                  Pesando o Ouro, de Gerrit Dou

2 comentários:

  1. Ou os canadianos e a Galp encontram rapidamente as tais reservas de gás e petróleo ou a miséria vai ser total. O gregos parece que se vão safar por essa via...

    Beijinho Paulo

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  2. Pois, parece que no Canadá há uma reserva de pirites mágicas para dar à luz sucedâneos combustíveis... Só que por cá, nem no Beato, onde Raul Solnado ainda conseguiu encontrar petróleo.

    Beijinho, Querida Ariel

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