A Deserção dos Holofotes

Visto o último Woody Allen, «PARA ROMA COM AMOR», donde, entre muitos momentos bons, sobressai a extraordinária composição de Roberto Benigni num "vulgaríssimo" Leopoldo Pisanello, guindado à fama pelo capricho dos Media que promovem os gestos escancaradamente banais do seu quotidiano a objecto de interesse público. A sátira dá no vinte porque corresponde a uma vaga que também rebentou por cá. No tempo da minha adolescência havia concursos abertos a gente mais ou menos anónima, mas, como  em A Visita da Cornélia, que tivessem dado provas de um talento excepcional.
Com a passagem do Milénio, cresceu uma moda de revolta contra o monopólio da celebridade pelos mesmos de sempre; e a abertura ou o alargamento de concorrência em sede de canais de TV e revistas de bisbilhotices levaram à promoção e ao esquadrinhar de existências dignas de atenção geral inventadas ad hoc pelos meios de comunicação. A mesma concorrência que logo os faz largar sem piedade, com a precipitação cruel no anonimato de que se tinham convencido a salvo e em cujo afastamento enxergavam uma realização depressa revelada como miragem irredutível. A propalada democraticidade da invenção viu-se desmascarada no oportunismo opressivo que, prometendo mundos e fundos aos Zés deste Povinho, depressa os viu descambar nos devastados Zés Marias arrastados por esquinas e becos, com a cabeça nas semanitas de glória falsa dada e logo roubada, de forma análoga às benesses do Estado Social.
Meditem sobre a imagem, Dez Segundos de Fama, de Miram Van Cleemput

2 comentários:

  1. rudolfo moreira12/10/12, 11:06

    enquanto as pessoas estão entretidas com gente como elas não se revoltam

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  2. É, então, o verdadeiro ópio do povo, Caro Rudolfo?

    Abraço

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