Amores

O mestre das letras norueguês, Knut Hamsun, apesar de Nobel da Literatura em 1920, é visto por certos sectores como um dos “escritores malditos”, devido ao seu apoio à Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial. No entanto, o seu talento excepcional ultrapassa quaisquer barreiras e fá-lo sobreviver. Felizmente, voltou ao panorama editorial nacional pela mão da Cavalo de Ferro que, depois de “Fome” e “Pan”, põe agora ao dispor do público português mais uma obra-prima.

“Victoria” (brochado, 128 páginas, 15,00 euros), publicado originalmente em 1898 e agora entre nós, com tradução de Carlos Aboim de Brito, é um livro onde encontramos claramente o seu autor e entramos no seu mundo, numa esplêndida narrativa que nos exalta os sentidos e os sentimentos.

Contando a história de Johannes, filho de um moleiro, que ama profundamente Victoria, a filha do castelão, Hamsun conduz-nos através da Natureza – omnipresente – e da natureza humana. O jovem Johannes passeia à vontade no bosque em que conhece os lugares, os caminhos, as rochas, as árvores, as flores, os pássaros. Sabe que a barreira social entre si e o seu amor se consubstancia em Otto, o seu rival, com quem Victoria aceita finalmente casar-se, para tentar tirar a sua família aristocrática da ruína financeira. Entretanto, Johannes, solitário, torna-se poeta e escritor, mantendo como musa a sua paixão da adolescência. Vai para a cidade e para outros países, mas a distância não atenua o sentimento mútuo, por tantas vezes disfarçado com frieza, distanciamento ou formalismos. Ainda assim, uma série de desencontros amorosos acaba por suceder. Como nos é dito, há “diversas formas de amor: as que duram e as que perecem”. E vamos conhecê-las, até ao final trágico desta bela e tocante história de amores que não nos deixa indiferentes.

Ler Knut Hamsun – mergulhar no seu universo e deixar-se envolver totalmente – é um prazer, um deleite e, principalmente, um privilégio, nestes tempos acelerados e desligados que hoje atravessamos.

Recensão publicada na edição desta semana de «O Diabo».

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