Abutres do Egipto

Tenho propositadamente esperado desenvolvimentos das perturbações no Cairo por sempre me haver parecido serem as notícias da queda do regime tão ligeiramente exageradas como as da morte de Twayn, segundo o próprio. Desde logo, duvidei de que a população e o Exército não estivessem divididos... ou que estivessem integralmente nos sacos em que os enfiavam. Mubarak, sendo militar, não era do ramo terrestre, sim da agora sofisticada mas muito minoritária Força Aérea e a sua consolidação no Poder foi consumada à custa da depuração e ulterior ostracização do finado General Abu Ghazala, o qual chegou a namoriscar a Irmandade Muçulmana para se apoderar da Presidência e manteve nostálgicos para além dessas duas mortes. E nos cidadãos comuns, nestes anos todos, uma imensa cadeia de favores e, também, melhoramentos sensatos criaram uma base de apoio persistente que estranharia se não se sentisse ameaçada.
O interesse maior estará em ver se os apoiantes do novo Rais funcionarão como os mineiros da Roménia, no insucesso em proteger Ceausescu, ou na posterior vitória sobre os manifestantes que pretendiam apear Iliescu...
O que é lastimável é a atitude de líderes(?) do Ocidente, ao farejarem uma carcaça em decomposição. Os Norte-Americanos preparavam-se, transferindo-se com armas e bagagens, para fazerem do Chefe de Estado local um novo Ferdinando Marcos, podendo as vazas serem-lhes cortadas apenas se o Sr. El Baradei se revelar um erro de casting para o papel de Benigno Aquino. Veja-se a propósito o aviso de Miguel Castelo-Branco, ao que creio ainda magoado pelo puxão do tapete ao Xá do Irão.
Mas igualmente repugnante é a lenga-lenga do Primeiro-Ministro Cameron, dizendo que é inadmissível que os ainda mandantes da Terra dos Faraós instiguem uma parte do Povo contra outra. O que estes cabecilhas anglo-saxónicos pretendem é que uma parte coma e cale.
Achei muito estranho que estes tumultos não dessem molho. Já dizia um eminente especialista no País em questão:


Nisto tudo só temo que a Comunidade Copta, eternamente ameaçada, venha a pagar as favas, qualquer que seja o vencedor que queira cavalgar a animosidade islâmica radical. E, como sabemos, os governantes que o nosso hemisfério tem não costumam perder o sono por más acções como o abandono...

2 comentários:

  1. Cá está o postal que faltava! De facto, as poucas certezas que há na agitação do Egipto fazem-me temer o pior.

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  2. Eu, como não sou democrata, não pretendo impor qualquer dos lados, Amigo Miguel. Quanto a nós, já estamos a sofrer, com o pitróil a disparar.
    Mas o que são as agruras da bolsa quando comparadas com os perigos que a comunidade religiosa referida, simpática na sua teimosa peculiaridade, embora um tanto aluada, vive?
    Ab.

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