O Método do Discurso

O Presidente Cavaco é um inadaptado. Atirou-se à Presidência da República com uma concepção minimalista das funções, para marcar a diferença em relação às turras de Eanes e Soares com os chefes de governo de sinal contrário, não falando já da precipitação da reviravolta do episódico santânico de Sampaio. Acreditou, julgo que piamente, que um apelo continuado ao consenso bastaria para o gerar, ao menos quanto a si; e produzir a estabilidade que tem por fonte da confiança, motor e chave de Economias sãs. Não percebeu que é impossível a um chefe de Estado eleito por uma metade do País contra a outra ver reconhecida a sua imparcialdade pelos perdedores. Já o devia saber, desde que apoiou Soares a um segundo mandato e, desde o apoiado aos seus seguidores, toda a Esquerda viu a acção como manobra que evitasse embaraços e humilhações da derrota anunciada. Também não entendeu que avisar contra os agravamentos da contestação e da volubilidade eleiçoeira numa altura em que as pessoas desenvolvem justas animosidades contra governações cerceadoras do que lhes fora dado, além de enfeudadas ao Estrangeiro, em vez de neutral cautela só poderia ser entendido como colaboracionismo por oposições ansiosas de cavalgar a onda e à coca da oportunidadezinha de reocupar cadeiras. As palavras do Presidente pareceriam bem brandas e inócuas, noutro contexto. Neste, exalaram parcialismo demolidor, aquele que é, afinal a essência dos votos divisivos, quer para Belém, quer para S. Bento. O problema não está, como diz e pensa, em haver eleições antecipadas. Lateja, sim, em existirem eleições, pura e simplesmente.
                                                                          O Inadaptado

2 comentários:

  1. "Inadaptado", é demasiado brando Querido Paulo. É um deficiente funcional enquanto presidente, duplice e cobarde no que ao caracter diz respeito. Mas será que merecemos melhor depois de termos [nunca com o meu voto, credo] eleito consecutivamente esta aventesma para os mais altos cargos da Nação?

    Beijinho

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  2. Querida Ariel,
    para quem, como eu, de fora, consegue desapaixonadamente olhar o Sistema é curioso ver que a figura emblemática do Regime, por ter sido a que mais tempo exerceu o Poder e por se ter constituído em referência de abrigo ou de alvo da luta política, se mostre tão desconfortável no cargo que, reconheça-se, nas circunstâncias presentes, está armadilhado a um ponto muito para lá ainda da ilegitimidade que lhe é ínsita.

    Beijinho

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