Genealogia do Terror

Para quem cresceu no convívio com a horrorosa recordação de um atentado contra atletas, os Israelitas Olímpicos de Munique, em 1972, as bombas de ontem na recta final da famosa Maratona de Boston são mais um sintoma da decadência face aos Antigos que, como os Helenos, estabeleciam tréguas nos conflitos para permitirem a celebração dos Jogos. Claro que a dimensão é completamente diversa da do 11 de Setembro, mas as reacções são iguaizinhas: o discurso do Presidente Obama parecia decalcado do do antecessor Bush e a histeria da multidão equiparável à do atentado que mudou as nossas vidas. Se houve o cuidado de não antecipar atribuições de autorias, presumivelmente para não terem destino semelhante ao do Partido Popular espanhol que foi ruado ao imputar as explosões nos transportes públicos de Madrid à ETA, em vez de aos islâmicos radicais, um Congressista do Massachussets, Bill Keating, veio exagerar a sofisticação num registo excessivo que só a existência de mortos afasta do folclore da célebre Insurreição dos Pregos comunicada ao nosso País pelo então Ministro Ângelo Correia. É certo que os engenhos eram rudimentares, pelo que, ser me ousasse adivinho, o meu nariz apontaria para um dos numerosos grupúsculos anarquistas que brotam daquela sociedade. E se lição internacionalizante há a tirar, é a de que deixar, por exemplo, os Norte-Coreanos chegarem à capacidade de produção de armas atómicas pode reavivar outro receio genericamente partilhado na minha adolescência, o da célebre dirty bomb que dispensasse mísseis ou bombardeiros de longo raio de acção. Não sei se alguma vez saberemos a quem se deve esta triste proeza, no caso de não ser reivindicada. Mas haverá decerto quem venha a ser punido. O sistema mental Norte-Americano precisa disso como pão para a boca e, caso não encontre culpados, encontrará bodes expiatórios como alvo de Justiça sem lisura ou garantias, à maneira dos julgamentos dos bombistas do célebre Haymarket Riot de Chicago, em finais do Século XIX. Esta falta de escrúpulo, se os despromove, garante-lhes, por outro lado, a vitalidade que a Europa deixou escapar. O certo é que a triste legenda FINISH, na meta da prova-rainha do Atletismo ganhou o macabro significado do término do Desporto como alívio da opressiva depressão do nosso quotidiano.

7 comentários:

  1. caro Paulo, eu acho repugnante o terrorismo. Por várias razões, não fico admirado que estas coisas aconteçam nos EUA. De igual forma chocante tem sido os assassinatos em escolas perpretados por meros adolescentes que convivem com armas letais em casa. Uma sociedade que promove a violência ao ponto de arte, uma sociedade "Tarantina", não nos deve abismar antes alertar e temer que tal "cultura" se erradique neste pequeno quintal. Pelos EUA, o filme continua.

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  2. Meu Caro Paulo,

    Fosse eu responsabilizado pelas investigações, esquecia desde logo os grupos terroristas e virava as atenções para a própria organização da prova. Um terrorista, no sentido de agente de grupo revolucionário, teria regulado as bombas para explodirem à hora prevista da chegada dos chamados "atletas de elite", ou seja, mais ou menos meia hora depois da hora prevista para a chegada de quenianos e etíopes, para assim, eliminando-os, ampliarem no tempo os efeitos do seu acto demoníaco. Mas repare o meu Amigo que quem quer que tenha colocado as bombas, regulou-as para explodirem três horas, TRÊS depois! Até a nossa Dulce Félix já estava, duche tomado, a aviar cocktails no hotel há mais de uma hora!
    Fosse eu responsabilizado pelas investigações: bombas rudimentares caseiras?; colocadas junto à meta onde os acessos são particularmente controlados?; explodirem três horas depois da verdadeira competição estar terminada? Humm... Alguém da organização da prova fartou-se de ter que ficar horas a fio a olhar para a legenda FINISH a ser atravessada pelas mais improváveis criaturas circences que lutam pelo seu minuto de glória televisiva.

    Um abraço

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  3. Atacar no meio de uma prova desportiva num dia de festa só mesmo o mais miserável dos miseráveis....

    Beijinho Querido Paulo

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  4. rudolfo moreira16/04/13, 17:10

    ainda pensei que ia ver um dos maratonistas feridos arrastar-se para acabar a prova

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    1. http://globoesporte.globo.com/atletismo/noticia/2013/04/velhinho-cai-na-hora-das-explosoes-em-boston-levanta-e-completa-prova.html

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  5. gene analogia ou ana loggia

    horrorosa recordação de 72? os palestinianos e os da primavera árabe até gostaram né

    é relativo

    a maratona da fome etíope matou mais

    em 88 no sahel as filas de maratonistas da seca caiam quilómetros antes da meta

    as baratas tutsis eram péssimos maratonistas havia sempre uma carrada de gente que os ultrapassava

    ó o horror a tragédia cagrande albarrão me saíste

    as bombas são um sistema da meritocracia bíblica

    os primeiros serão os últimos os últimos serão os primeiros

    é o nine eleven do obama?

    se é aposto que foram os iranianos...

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  6. Meu Caro João,
    penso que o segundo ponto que nos dá é o fulcral. Desde os jogos, até às produções cinematográfico-televisivas, a desvalorização da Vida e a incitação aos actos de destruí-la podem agir sobre mentes deformadas que já não consigam identificar e conformar-se com os limites estritos do Lúdico. Claro que os defensores das armas livres virão usar o argumento de que quem quer matar o faz, recorrendo aengenhos como este, que não se encontram nas lojas...

    Meu Caro Pedro,
    hahahahaha, essa é a actualização oportuna do axioma "o culpado é sempre o mordomo" digo gente da casa! À cautela, o Meu Prezadíssimo Amigo metê-los-ia dentro, o que daria aos Media hipertrofiados lá da terra uma notícia... explosiva!

    As misérias humanas são tantas e tão variadas, Querida Ariel, mas esta é, efectivamente, das maiores, que chega a levar a nossa revolta à estranheza de como alguma mente poderá conceber crimes quejandos sem castigo, mesmo na época em que a surdez perante Deus chegou a graus paroxísticos.

    Meu Caro Rudolfo,
    à imagem da Maratonista Suíça nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, com os ferimentos a ampliarem o alcance da exaustão Daquela, não?
    Mas houve outro tipo de Heroísmo: competidores arrasados pelos quarenta e tal kilómetros de corrida que seguiram sem repouso para os pontos de recolha para dar sangue!!!

    Beijinho e abraços

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