O Fim do Princípio

É muito importante o esclarecimento que o Dr. Gusmão nos traz, mas penso podermos ir ainda mais longe: não só o álcool já não é uma motivação importante dos suicídios, como até pode ajudar a evitá-los. A sua oposição aos antidepressivos não é da natureza da barreira, mas da da concorrência, uma vez que muitas etilizações têm ajudado a suportar o peso de uma realidade angustiante indutora da precipitação da morte, como alívio. No caso dos idosos, a acentuação das noções de que a Esperança é coisa que tem idade própria, já passada e ultrapassada, é hoje estimulada pela tripla insensibilidade dos discursos e das políticas que fazem deles um peso para a população activa, lhes tiram os parcos pontos de apoio a que se tinham agarrado com pés e mãos e enfraquecem o pano de fundo do horror comunitário e a Condenação Divina perante a relevância da vontade do termo. Chegámos a um vazio de sentimentos e interacções tão triste que matar-se pode voltar a ser visto como uma consequência da lucidez, à maneira de certas escolas de pensamento da Antiguidade, e não já como uma doença, ou um triunfo do Mal. Ou seja, deita-se em poucos anos para a lixeira o manancial de resistências que a Cristandade levou séculos a pôr de pé, sem que o valor do Sacrifício consiga impor-se mais, tão grande é a avalancha de frustração do hedonismo sem arte, contrapesos ou... consumação que nos esmaga. Essa debandada de razões resulta, forçosamente, para muitos, no Princípio do Fim.
                                        Dizer a Verdade É Um Suicídio, de Natee Utarit

3 comentários:

  1. Meu Caro Paulo,

    Se em muitas ocasiões ao longo dos tempos e em diversas geografias o álcool terá sido motivo de assassínios, não me parece que alguma vez o tenha sido de suícidios. Isto para dizer que estou totalmente de acordo com o meu Amigo, quando diz que em vez de ser barreira aos antidepressivos o álcool antes concorre com eles na terapêutica das nossas maleitas psíquicas. Nos casos extremos, sou até de opinião que o álcool deveria ser medicamente priveligiado em relação aos antidepressivos uma vez que há muitas mais possibilidades de se falhar um tiro na própria cabeça depois de se beber uma garrafa de whisky do que depois da toma de um Prozac. Com vantagem, no caso de sucesso no intento, para os Senhores Jornalistas que poderão noticiar a ocorrência sem mais delongas ou inquirições: - "Fulaninho de tal suicidou-se derivado ao álcool.". Acrescento ainda que, se quem anda receitado a antidepressivos lesse as bulas (para quê?, eu quero é morrer!) verificaria que até os efeitos secundários - disfunção sexual, dependência, manias, alucinações, etç - são os mesmos que figurariam no rótulo duma qualquer garrafa de vodka se vendida em farmácias.

    Abraço

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  2. dar álcool é dar de viver a 15 milhões de putos goeses yeah man great racio simium...

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  3. Meu Caro Pedro,
    essa da correcção da pontaria contra o candidato ao suicídio está de gritos!
    Acerca dos efeitos da pinga sobre a mente e resultante propensão para abreviações da vida, junto prova insofismável: o Amigo imagina o Capitão Haddock atraído pela auto-imposição do fim?

    Abraço

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