E O Oscar Vai Para...

Oscar Pistorius tem o condão de me deixar incomodado. Já escrevi, noutra encarnação blogosférica, sobre o imperativo de lhe permitir a participação desportiva que, realizando-o, lhe permitisse superar algum peso da Deficiência, apenas no domínio Paralímpico, por o recurso a meios mecânicos ser uma falsificação de mais graves consequências no pano de fundo geral do que a amputação quanto ao seu potencial competitivo em condições normais. Mas nunca imaginei o perigo que agora ganhou corpo: o de um tratamento de excepção poder ter induzido a auto-atribuição de uma moral excepcional que o desculpasse à partida de um assassínio, vulgar na sua repelência, porque cometido por um agente atingido pelos handicaps comoventes e admirado graças à não menos comovedora luta pela sua superação. O que urge também contrariar é a argumentação paterna. Pai é Pai, mas dizer que o assassino foi motivado pelo instinto desportivo ao atirar mortalmente sobre quem lhe partilhava a vida equivale a uma concepção do killer instinct no Desporto muito abusivamente para além da mera superação do adversário e, no seu absolutismo literal, ludicamente justificativa da reciclagem ética que proporcionasse o Direito ao Crime. Se não for punido como os outros, em razão da sua celebridade, estatuto atlético, ou insuficiência física, estar-se-á a dar ganho de causa a muito mais perigosa linha de defesa que a simples imaginação dos advogados que encarrilaram para a «confusão com um ladrão», rotineira desculpa de inverosímil pagador com que poderiam ter contemplado qualquer outro.
                                                      Ídolo Caído, de D. P. Stevenson

3 comentários:

  1. Meu Caro Paulo,

    Tivesse o Oscar matado a Reeva (que desperdício, minha Nossa Sinhora!) em terra Lusa, um qualquer 'Marques da Silva' obstaria à sua extraditação alegando falta de confiança na polícia Sul-Africana e daqui por uns dez a quinze anos estaria um 'Júdice' a exigir uma indemnização ao Estado Português, em nome dele, pelo ano e seis meses de prisão preventiva* que lhe teriam arruinado uma carreira desportiva de topo, mais que anunciada.
    Como o Paulo diz e bem, Pai é Pai, e em país que ainda recentemente tinha o tiro aos pretos (não é gralha!) como desporto de eleição, não me admiram os argumentos numa defesa desesperada do seu menino de prata que certamente já só vai poder aspirar a outras medalhas em Olimpiadas Prisionais.
    Tudo o resto parece-me o mesmo folclore jornalístico usado com o manhoso das passerelles, Renato Seabra, que tão boas tiragens/audiências rendeu até ao seu inexorável encarceramento.

    ________________________________________________* - ou domiciliária, já que com a entrega das próteses como caução poderiam alegar a impossibilidade de fuga, haãã, embora tivessem que resolver primeiro o problema da aplicação da pulseira electrónica.

    Um abraço

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  2. meu caro opus pistorum....o bom moleiro não faz farinha dos ossos dos outros misóginos com melhor pontaria....

    nã sey se piss torium nisse....ó cunha dos maus cunhais...

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  3. Meu Caro Pedro,
    impagável, essa charge aos nossos Penalistas, um dos quais foi meu Professor e cujas intervenções-tipo estão retratadas com uma certeiríssima pontaria!
    A Reeva, com efeito, merecia melhor e mais prolongada sorte.
    Assim como tenho de confessar-Lhe um desgosto adicional: sendo o «BLADE RUNNERum dos meus filmes mais queridos, tenho pena de ver, pela alcunha do responsável por este crime, tão boa fita associada à elinminação de seres mais humanos que os andróides assassinos...

    Abraço

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