Vestir os Que Estão Nus

No Mundo Germânico a nudez sempre fomentou muitas teorias pretensamente regeneradoras don Homem. Nos anos de 1920-1930 lá prosperaram as doutrinas de que a vida quotidiana sem vestes seria um factor de verdade e transparência, mostrando que nada se tinha a esconder, e uma esterilização do erotismo, cuja responsabilidade era atribuída aos trapos que inquietam e deixam entrever. Vá-se lá saber por que razão estimavam esta pretensa qualidade, mas não é isso o que aqui me traz. A iniciativa deste museu austríaco, de abrir um dia para visitantes nudistas de nus masculinos, é uma baralhação: se outrora fazia escola a ideia de que a Arte imita a Vida, tenta-se, do modo mais fácil, propugnar que a Vida imite a Arte. É uma assombração da inocência perdida, que se sugere recuperável pela renúncia às sucessoras industrializadas da folha de parra. E mais uma patética manifestação de igualitarismo, que não percebe estar a entoar um hino à Desigualdade, pois se, nesta época de pronto-a-vestir, as mesmas peças, sublinhadas pelos normativos da Moda, podem indiferenciar um tanto todos os que tenham dinheiro para as comprar, não há volta possível no que toca à comparação dos corpos, por completo diferentes e hierarquizáveis, consoante as medidas, tonalidades, sinais e (im)perfeições. Em vez de ser a Meca da Igualdade, é apenas o Meco dela, o que se coaduna com a lamentável opção nudificadora pelos machos...
                                                  O Anjo Adormecido, de Mariola Bogacki

4 comentários:

  1. Meu Caro Paulo,

    O museu aberto a visitantes nus será concerteza um happening de excepção, já que por definição, estes eventos artísticos acontecem fora dos museus e galerias de arte.
    Sendo que por razões óbvias os visitantes nus não têm onde guardar a carteira, e a exemplo da exposição "A verdade nua: Klimt, Schiele, Kokoschka e outros escândalos", é de esperar que o museu lhes faculte a entrada gratuita. Claro que as associações de nudistas requerentes se deverão responsabilizar por ressarcir o museu por eventuais abusos, isto é, pelos machos não interessados na exposição mas antes nas visitantes nuas, bastando para tal contabilizar-se cada um que não consiga manter o meco na posição de descanso.

    Um abraço

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  2. As teorias "regeneradoras" germânicas bem sabemos onde conduziram a Europa..., é por estas e por outras que me regozijo por pertencer a uma cultura mediterrânica....

    Beijinho Paulo



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  3. Meu Caro Pedro,
    Ai, o Amigo, com a Perspicácia de sempre, deu uma razão ao Ministro Gaspar para não permitir achados culturais semelhantes, com essa da ausência de meio para transportar a carteira! Só de imaginar que teria de sobrecarregar o Orçamento com os valores em falta... Mas claro que terá de vir a fazê-lo, por não nos ter deixado senão a pele. E por enquanto!
    Já a motivação do priapismo que menciona vai funcionar como camuflagem de alguns visitantes que se deixarão hã erguer pelas obras expostas, receio-o bem.

    Querida Ariel,
    de facto, têm sobrevindo grandes azares dessa proveniência. Mas há, penso, que não condenar a Essência. Madame de Stäel dizia que «Os Alemães, até aos 17 ou 18 anos, são as pessoas mais adoráveis do mundo. Depois, a Filosofia dá cabo deles»...
    O meu Mestre Maurras, por seu turno, opunha o Génio Latino clarificador às «Brumas Germânicas». Não sei. Mas concordo que tivemos sorte de escapar à imediata influência dessas experimentações sobre o fluir humano.

    Beijinho e abraço


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  4. rudolfo moreira01/02/13, 14:36

    o strip dos amadores dá para protestar e para apreciar arte de modo que qualquer dia nem serve para o que deve

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