O Choque Em Cadeias

A cobertura televisiva do acidente ferroviário de ontem trouxe-nos absurdos vários, como absurda parece ter sido, nas previsões, a possibilidade do desastre, tantas eram as seguranças sinaléticas e computorizadas que afastavam o cenário. Eu sei que é difícil fazer passar à frente da bola alguma coisa, mas o mínimo que a SIC poderia ter feito era interromper de imediato os comentários  para encher do trio político-futebolista que lhe ocupa as noites de Segunda, à maneira do que a TVI fez, em vez de descansar sobre o frenesi do rodapé informativo, durante largo tempo. Mas não se pense que a sua concorrente esteve imaculada: enquanto as outras cadeias havia muito tinham sossegado o País quanto à inexistência de mortes ou feridos de muita gravidade, ela continuava a insistir irresponsavelmente na aterrorizante possibilidade dos óbitos. Numa e noutra, de resto, ouvi estar envolvida uma terceira composição que parece ter surgido somente da bulimia informativa. Agora que a Tragédia maior se não confirma, tenho de reflectir em como a descrição do acidente espelha bem a condução do País - metida a água nos carris com os orçamentos a deslizar e acelerando-se inescapavelmente nos trilhos do incumprimento, acabam os inocentes transportados por ver entrar-lhes pela traseira toda uma locomotiva em descontrolo. Esperemos que não fosse da sinalização impotente a tal luz que o Dr. Passos lobrigou ao fundo do túnel embora já todos saibamos que isso, como o espalhafato televisivo das coberturas sem exactidão, se resume a música para nos entreter.
                                               O Comboio Mistério, de Nick Cudworth

4 comentários:

  1. caro Paulo

    Pouca "televisão" vejo a não ser usar o aparelho para a visualização de filmes, música e algum futebol. A "informação" por essa via passa-me. Face ao que diz, não me espanto, levados pelo frenesim das manifestações (algumas de seis cidadãos) e da infeliz vida de certos desempregados e doentes, a "informação" sugere-me uma atitude de choque masoquista e não me parece que nenhuma velinha possa "iluminar" as consciências dos "editores" de informação.

    abraço

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  2. Meu Caro João,
    sim, também, como creio já ter dito, ligo-a muito pouco. Mas, ao topar na net com as chamadas para o acidente, confesso ter alimentado a aspiração modesta a ver uma reportagem capaz de uma actualidade tão chocante e palpitante. Foi o que se viu. Concordo em que nenhuma intenção salvará aquelas redacções!

    Abraço

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  3. Meu Caro.....sim, também, achei estranhas as barras sobre o misantropo14 qualquer cousa mas...gostos sã gustos

    também apostei comigo mesmo que seria um beta-log avesso ao acordo...

    apostei também que seria um b-loki anterior a 2008 mas nisso perdi

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  4. Pois, apostar consigo mesmo parece ser passatempo menos compensador que outros hobbies solitários, especialmente em quem tem dificuldade em reconhecer barras...

    Sinceras condolências

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