Fiel Aos Reis

A contra-ciclo me manifesto pela instituição de um feriado, quando a cegueira da produtividade insiste em arrasar uma série deles. O Dia de Reis, ainda tão importante em Países próximos, como Espanha ou Brasil, ao ponto de, entre Nuestros Hermanos continuar a ser o momento de eleição para a entrega dos presentes, que, dizem, em Portugal também já teve equivalente expressão nas ofertas da Velha Bifana aos meninos que se portassem bem. Talvez pela percepção suave de que, chegados a adultos, nos temos portado mais que mal, perde-se essoutra entrega dos presentes, mas no sentido de empenhamento dos que se encontram, outrora vazando para o afã dos Reisados que, também politicamente, todos teríamos a obrigação de ser. Mas quero deixar uma lamentação especial: o meio apertadinho das normas de segurança alimentar supra-nacional obrigou à supressão das prendinhas do Bolo-Rei. Olho para as três figuritas de Baltasar, Melchior e um envergonhado Gaspar por nome desditosamente partilhado, que guardei desde o derradeiro ano em que o brinde foi possível, retiradas de outros tantos exemplares da 8ª Maravilha do Mundo, ou seja, o referido doce natalício da Pastelaria Garrett, do Estoril. E, quer por pensar nesse tempo em que ainda tinha vivos os meus Pais, quer por relembrá-lo como capaz da mencionada pequena dose de tradição e tributo, choro o desvanecimento da Referência dos Magos. Daqueles que, em sonho, conseguiam ter a percepção de inimigos dissimulados e agiam em consequência, enquanto que nós, supostamente em vigília, nos tornámos abúlicos diante dos adversários evidentes. Pelo que concluo uma vez mais que, ao invés das prendas, a fava não foi retirada, antes nos saiu em desmesurado tamanho, consubstanciada na época que nos aprisiona.
                                  Santuário dos Santos Reis Magos, na Catedral de Colónia

6 comentários:

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  2. Meu Caro Paulo,

    Para este ano o Seu manifesto não teria encontrado muito apoio já que o Dia de Reis caíu num Domingo. :)
    Quanto ao retorno às oferendas da Velha Epifania, como a idosa realmente se chamava antes das fonéticas regionais lhe corromperem o nome, ou à adesão ao ritual da recepção aos Reis Magos, em acumulação com a do Pai Natal - nós não somos a Espanha! -, foi uma oportunidade perdida. A invenção do japonês Shota Ishiwatari, ontem publicitada na comunicação social teria com certeza dado o tão necessitado empurrão no Comércio Interno deste país depauperado. Não tão grande como o brilhante inventor imagina, já que para os não orientais o aplique só terá préstimo para as meninas bem comportadas uma vez que o problema dos meninos bem comportados, na maioria dos casos, é precisamente o de conseguirem disfarçar o objectivo daquele apêndice em pantalonas demasiado justas, mas ainda assim, seguramente que as novas máquinas de facturar impostas aos pequenos comerciantes não iam ter um minuto de descanso.

    Um Abraço



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  3. Belo texto, Caro Paulo. Também eu recordo, com saudades, a "gallete des Rois" dos tempos parisinos e a expectativa de ser premiado com a famosa fava. Ainda conservo - algures... - algumas delas ainda em autêntica porcelana. Abraço amigo!

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  4. Mas, Meu Caro Pedro, a simetria que indiquei, face à extinção de repousos festivos, valia só para os próximos anos, já que neste os feriados ainda sobreviveram...
    Gostei muito do adereço proposto pelo Sábio Nipónico,embora a minha gatinha tenha bocejado, por, na Espécie Felina o expediente estar há muito em vigor, sem necessidade de sucedâneos industriais. Nas gatas de duas pernas teria pelo menos a vantagem de tomo de sinalizar receptividades sem condicionamento... hã... teatral.

    Meu Caro Marcos,
    guardo a primeira prendinha que me calhou num bolo comprado com a mesada dos meus 11 anos, um talismã que não exporei aqui. Mas as da Garrett, como a massa dos pitéus envolventes, eram outra coisa!

    Abraços

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  5. Paulo, porque só agora, após a leitura do seu escrito, tive conhecimento de que perdeu a sua querida Mãe (terá sido, imagino, já há algum tempo) permita-me que lhe envie algum conforto moral através destas modestas linhas. Em momentos como estes saiba que os verdadeiros amigos estarão sempre consigo. A profunda tristeza que nos invade o coração e alma quando se perde uma Mãe ou um Pai, embora jamais se dissipe, vai-se atenuando com o passar do tempo e com o apoio seguro que os amigos sinceros representam. Nestes, com a sua desde há muito benévola aquiescência, tenho a honra de estar incluída e é com o tributo dessa amizade que o Paulo pode contar.

    Paulo, peço-lhe antecipadamente desculpa de, através deste seu espaço, deixar umas palavras de admiração para o João Marchante, uma vez que no Blog dele tal não é possível.
    Maria

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    João, parabéns pela sua "Democracia à Grande e à Americana". Uma síntese brilhante sobre a 'primavera árabe' instigada, promovida e desencadeada pelos hipócritas políticos norte-americanos, através dos homens de mão no terreno, sobre aqueles infelizes povos, levando ao assassínio premeditado de centenas de milhar de inocentes. Os donos do universo e os seus lacaios chamam-lhes orgulhosamente 'primaveras árabes' mas mais não são do que genocídios consentidos pelo mundo civilizado que, por medo, fraqueza, submissão, cobardia e muito oportunismo, não mexe sequer uma palha para os impedir.
    O João tem o grato condão de resumir em poucas linhas o que todos nós europeus independentes, isentos e lúcidos, pensamos das cínicas 'primaveras árabes', mais destruídoras do que 300 furacões seguidos d'outros tantos maremotos. Não se duvide por um segundo da existência do Inferno. Ele está ali diabòlicamente actuante e profusamente representado.

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  6. Querida Maria,
    muito obrigado pelas palavras que teve a bondade de me dirigir. Janeiro é um mês complicado para mim, perdi Ambos os Pais nele, no de 2007 Um, no de 2009 a Outra.
    De resto, o «Jovens...» é tão meu como do João e dos outros Confrades, eu sou apenas o mais fala-barato.

    Beijinho reconhecido

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