À Coca:


Tomou-se de virtude a Coca-Cola, como desde as origens se tenta impingir. Os começos refastelaram-se na caução de um farmacêutico, o Dr. John Pemberton, seu inventor, que vem, desde aí, sendo alvo de culto, com estátua erigida e tudo. A minha experiência em torno dela associa-a a coisas negativas, pois, bebendo-a como a generalidade dos pirralhos, deixei de o fazer aos doze anos, quando o meu Pai me disse que, a partir daí, já um homenzinho, me deixasse de tomar aquelas coisas e passasse a meio copito de tinto, às refeições. Quanto à obesidade, penso, como é habitual em tantos domínios, ser o abuso e não o uso que acarreta os efeitos nocivos. Conheci nestes anos todos muita gente que se deliciava nela e permanecia elegantíssima. Tendo a crer que o mal está na companhia, a combinação com doses quase tão industriais como o tipo de hamburgers, batatas fritas e pipocas com que se empanturram os adolescentes Americanos. E nas campanhas contra o alcoolismo, as quais, em vez de aconselharem o consumo moderado, incitam à substituição incontinente por xaropadas açucaradas. A presente ofensiva publicitária é consistente com o que sempre fez, alterações de fórmulas ao sabor das pressões dos denunciantes das suas falhas, ao ponto de o original ser uma remota referência, mas não traduzindo esse aggiornamento qualquer contrição profunda. Por mim, o produto encontrou em Portugal o amigo e o Inimigo que o definem: Humberto Delgado, pelos Comunistas apodado de General Coca Cola; e Salazar que, tendo resistido às influências para a permitir no espaço luso europeu, depois de a provar, terá exclamado: ainda por cima é uma porcaria!
A imagem é a da Solidão, de Tony Ignatov...

6 comentários:

  1. Isso de Salazar ter de aprovar a partir do seu gosto pessoal o consumo de uma bebida, é daquelas bizarrias próprias do botas. Sim porque, porcaria por porcaria, a acarinhada Spur-Cola pedia meças. Em todo o caso não consta que a sorte dos portugueses de 2ª do longínquo Moçambique com o consumo da maldita bebida lhe tivesse tirado o sono...:)))

    Beijinho Paulo

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  2. Pois, Querida Ariel, a resistência ao império das multinacionais vai passando por bizarria...
    Não era com base nas preferências Dele, a decisão estava já tomada, com a célebre argumentação de que «ou a bebida continha cocaína e o Governo não poderia tolerá-lo, ou não e, dado em gíria lusa ser essa a designação da droga em questão, quadraria na figura de publicidade enganosa, o que também se não podia permitir.». A prova foi um momento menor de curiosidade e posterior.
    Portugueses de segunda, nada, o de Angola que sou nunca se sentiu assim. Só bebe quem quer e o problema era mantê-los longe do Poder; aproveitando a diversidade dos espaços fiscais, garantia-se o essencial apoio Sul-Africamo e acalmava-se o ressabiamento hostil da Companhia de Atlanta...

    Beijinho

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  3. ahahah, a argumentação da publicidade enganosa faz as minhas delícias :))) Não sei se o Querido Paulo sabe, em Moçambique existia uma fábrica de Coca Cola, a beberagem não era importada da África do Sul...

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  4. Em Angola também, Querida Ariel, mas ambas tinham sido construídas com capitais e alguma ligação à delegação Sul-Africana do fabrico do refrigerante. De resto, tanto quanto lembro, o resultado era menos aguado do que se pode provar hoje, por cá, mais próximo do produto com o mesmo rótulo dos mercados Espanhol e Brasileiro.

    Beijinho

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  5. Publiquei:

    http://historiamaximus.blogspot.pt/2013/02/a-coca.html

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  6. Muito obrigado, Meu Caro João José Horta Nobre, é uma honra e um motivo de orgulho para mim constar de Tal selecção.

    Abraço

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