Re-tratos da Língua

Cada vez mais, penso que a Gramática deixou de referir-se à arte de bem manejar o idioma e passou a constituir a inevitabilidade de gramar os tratos de polé que alguns profissionais da Escrita lhe dão. Logo numa agência com o nome Lusa (ai!), querendo, provavelmente, exibir-se como ultras do Acordo Ortográfico, mergulham numa concepção exagerada dele, desvirtuando o sentido dos vocábulos e transformando a notícia em mentira. Expicito: ao falarem da possível nomeação do ex-Senador pelo Nebraska, Chuck Hagel, para Secretário da Defesa dos EUA, deveriam querer dizer que ele, numa reinvenção da imagem que o corrigisse politicamente e lhe permitisse mais facilmente prosseguir a carreira, teria empreendido uma palinódia, a propósito de comentários que fizera aquando da eventual nomeação de um gay para embaixador. Pretendiam então dizer que ele se retractou das observações que proferira. Mas na fúria cega de retirar os Cs, o que escreveram foi que ele se «retratou», na mesma situação. Ó pró dicionário! Ter-se-á posto a reproduzir a posição que manifestara? E isso seria novidade? A letra do texto induziria a ideia de que ele se reveria nas palavras anteriores, pois se até lhes fez o retrato... Assim como acho um tanto suspeita a frase de que o tal candidato a diplomata seria, segundo, o Político, «aberto e agressivamente gay». Deve ser má tradução da ideia de que ele seria aberta e agressivamente gay. Mas desconhecer a língua alheia tem mais desculpa do que ignorar a própria e a redacção adoptada poderá sempre tentar desculpar-se com a adequação ilustrativa à realidade que desejava expor...
                                                   A Gramática, de Paul Sérusier

5 comentários:

  1. Conversa escutada na Agência Lusa (ai!)

    Jornalista 1 - Eu, hein? S#$#ss%&%&#s!
    Jornalista 2 - Então, pá? Tento nessa língua!
    Jornalista 1 - Tu não me queres ver este? É por estas que a nossa presidenta, E MUITO BEM, está relutante em firmar o acordo ortográfico com a sua assinatura! Retratar é retratar, PÔ! Se eu me quisesse referir a fazer o retrato, falava polaroidizar, ou kodakizar, que são os verbos corretos, entendeu? E mais! O candidato a diplomata falou sobre sobre James C Hormel, que ele era um homem aberto e agressivamente gay, SIM!, que eu ouvi. Em frases distintas.

    Um abraço :)

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  2. Ehehehehehehe, Meu Caro Pedro,
    um achado magnífico! Então os verbos "in" estão de morte! O jornalista em questão, para mais é um génio, consegue descortinar o género numa frase em Inglês...

    Abraço

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  3. Sim, de facto, temos dois erros, o da interpretação do copy-past da notícia mãe e o do excesso de sebo que os "jornalistas" – esses messiânicos propagandistas do aborto ortofráfico – praticam no exercício. Por ora temos o Brasil a dizer que vai adiar a implementação para 2016 ou para mais tarde o acordo, por cá os labregos correm à pressa para se anteciparem à inteligência. Valha-nos o Natal.

    um grande abraço

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  4. Escripta de atrasados mentaes. De 1911 que vêm cada vez pior...
    Olhe! Feliz Natal é o que desejo!

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  5. Meu Caro João,
    com asneirada a dobrar não admira o dobre de finados pela Língua Pátria!

    Está o Caríssimo Bic a ver, se não precisavam de pimenta na língua os que a tornaram tão sensaborona...
    Muito obrigado, espero que o do Meu prezadíssimo Amigo também haja sido a mui grande contento.

    Fortes abraços



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