Época Sem Marcos

Os Correios, em Portugal, nunca foram tão credores de importância oficial como no Reino Unido, em França, ou nos EUA, onde chegaram à dignidade de pastas governamentais. Mas entristece-me ver a contínua decadência de um serviço essencial à beira da niveladora privatização, o qual, tendo sido obrigado a largar, em proveito e glória da eficácia empresarial mais ávida, os telefones que outrora lhe estavam acopulados, passou a ver os respectivos postos fazerem um pouco de tudo, até o comércio de livros de pouca valia, diluindo a função primeira que era uma referência para a População.
Na continuidade de tais descaracterizações, passa-se a fazer pouco de tudo e estes lenhadores que se entretêm a abater os marcos de Correio nada trazem, por conseguinte, de muito novo. Para eles, o Passado é uma nulidade e os resquícios dele um enjoo. Portanto, não se poderia esperar consideração pelos Velhos que ainda usam aqueles pontos de recolha, os quais querem, como os outros, subjugados às filas e horários. Mas eu ainda esperava, pobre iludido, que a capinha hipócrita da "Defesa do Património" os fizesse manter os receptáculos que mudaram e melhoraram tantas vidas, há muito alcandorados a pontos enriquecedores das paisagens urbanas. Qual! Para estes capatazes da pós-pós-modernidade, no feroz arrancar é que estará o ganho.
              Marco do Correio, por Alberto Ribeiro

5 comentários:

  1. Felizmente, resta-nos ainda uma Companhia Maior de Marcos, a do nosso Pinho de Escobar!

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  2. Meu Caro Paulo, a gentileza do Amigo não conhece limites! Mas quanto aos marcos do Correio, a sanha demolidora recorda-me o abate desapiedado das cabinas telefónicas britânicas, caracteristicamente vermelhas, desenhadas por Sir Giles Gilbert Scott. É mudar pelo gosto de mudar, quase sempre para pior, em completo desprezo - e até raiva - pelo passado. Em tempo: sugiro que compremos alguns exemplares dos marcos, como recordação e... como investimento! Abraço apertado.

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  3. A lógica do dá prejuízo... é avassaladora, leva tudo à frente Querido Paulo, mas o Alberto Ribeiro neste Marco do Correio está longe de fazer as minhas delícias ...:)))

    Beijinho

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  4. Mesmo junto a minha casa tinha dois marcos de correio. Era uma felicidade, quando em menino, ia colocar as cartas no dito. Pelo caminho passeava, ouvia e aproveitava para pensar na cara das pessoas conhecidas a abrir a carta. O marco era a primeira paragem na viagem do correio. Foram-se os marcos ficaram as filas intermináveis dos correios quando se quer comprar um sêlo, digo, das "lojas de conveniência" chamadas "correios"....

    abraço, caro Paulo

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  5. É bem verdade, Meu Caro Marcos, essas cabinas benfiquistas tão ou mais vítimas da horrenda voga dos telemóveis do que os marcos condenados pela canalização para o e-mail.

    Querida Ariel,
    Dou comigo em relação aos marcos na postura do Ideiafix, o cãozinho do Obelix, no que respeitava às árvores: uivo de dor (tradução de "protesto no blogue") cada vez que vejo um exemplar vir abaixo.
    A letra é um bocadinho melosa, mas a voz era de respeito...

    Meu Caro João Amorim,
    com a alienação resultante desses estabelecimentos e por causa da esperteza saloia que foi o expediente de multifacetá-los, quase deveríamos chamar-lhes smart shops...
    Tenho um marco de correio miniatura repousando no quintal. Um dia fotografo-o e publico-o aqui.

    Beijinho e abraços

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