Panos Para Mangas

Sou um admirador do esforço que conduziu à formação e manutenção do Estado de Israel, logo estou à vontade para denunciar a falta de diplomacia e de senso do Embaixador desse País. Diz o Representante Hebreu que o decreto de luto pela morte de Hitler é uma nódoa que estigmatiza o nosso País. Ou é ignorância, ou má-fé. O Protocolo estabelecia esse procedimento sempre que falecesse o Chefe de Estado de uma Nação com quem Portugal tivesse relações diplomáticas. Não era nenhuma manifestação de preferência, senão a observância do formalismo inerente à neutralidade que era õ nosso estatuto, colaborante com o outro lado, muito embora. Pouquíssimo tempo antes, finara-se Roosevelt e o Governo Português procedeu de igual forma, além de, aí sim, ter prodigalizado um tratamento especial, com a deslocação do Presidente do Conselho à Embaixada para a apresentação de condolências, o que não sucedeu na Legação do Reich. Se tivéssemos negado o cumprimento do preceito da bandeira a meia-haste, enfileiraríamos na longa bicha dos adesivos aos vencedores e, apesar de os termos ajudado mais do que muitos que à última hora declararam guerra ao Eixo, isso seria coisa que a decência estaria longe de aconselhar. Estou convicto de que S. Ex.ª pretendeu apenas dizer que Portugal (pelo que o Estado Novo fez) é o melhor pano. E quanto à mancha que nele cairia, decerto é uma confissão acerca das insuficiências da sua pessoa, que não aceito que macule a sua Nação.
Acresce que as relações das Autoridades Judaicas com a Alemanha Hitleriana foram mais dúbias do que se pensa. Em 1940, por intermédio de Avraham Stern, foi proposto a Berlim que se encaminhasse para a Palestina umas centenas de milhar de Judeus internados nos campos de concentração, em troca da entrada dos Sionistas no combate, ao lado dos Germano-Italianos e contra os Britânicos. É certo que nesse ano ainda não se pensava em Soluções Finais, mas era evidente para todos que a deportação e aglomeração em recintos tão tristemente vigiados não teria por objectivo proporcionar aos hóspedes forçados uma colónia de férias... De resto, não colhe a desculpa que dê o Lehi, ou Grupo Stern, como um mero bando marginal e fanático. Sempre foi usado pelo Governo então sediado em Tel-Aviv para os trabalhos sujos, como os assassinatos de Moyne e Bernadotte, entre muitos outros. Uma vez içado Israel a estado soberano, não tardou uma amnistia aos seus membros e hoje há mesmo uma condecoração atribuída aos que o integraram. Todos temos de içar a meia-haste a bandeira, pela coerência do Senhor Embaixador.

9 comentários:

  1. Lapidar! Irrita-me a chantagem permanente que o Estado de Israel faz com o resto do mundo por causa do Holocausto...Questão de sobrevivência, parece-me...

    Ab
    Tiago

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  2. O que é facto é que não nos engrandece, três dias, três, foi demais...enfim ares do mau tempo. O que me irrita, tal como ao Querido Paulo, é o desegante e pouco diplomático apontar de culpas por parte do embaixador eu que também sou pró-Israel.

    Beijinho

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  3. Meu Caro Tiago,
    claro que é natural que se honre os Mártires, agora, como dizes, essa permanente tentativa de subjugar com culpas quem as não tem ameaça tornar menos digna de respeito a respectiva dor.

    Querida Ariel,
    era a conta prescrita no Protocolo de Estado. Aqui, ou se segue, ou se infringe.

    Beijinho e abraço

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  4. Nas suas memórias, Marcello Caetano diz que tentou dissuadir Salazar de deixar a bandeira a meia haste para não indispor os aliados...

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  5. Não admira, Amigo Átrida, foi político que sempre vergou aos poderosos do dia e a eles tentou colar a sua ambição. Nos melhores tempos da Itália Fascista andava de uniforme e braço ao alto a geralmente comissariar a Mocidade Portuguesa, com uma imitação de estilo a que o António sempre correspondeu com frieza. É como Humberto Delgado, se descontarmos a muito menor capacidade intelectoal e as fanfarronadas de pavão deste.

    Abraço

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  6. No livro o Marcello refere muitas vezes que ele era como que um iconoclasta no meio do ambiente de reverenciadores (sinceros ou oportunistas) que rodeavam Salazar. Qual é a tua opinião?

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  7. Huuuuum, é certo que, a partir de um certo ponto, ele divergiu da linha antoniana, mas mais desde a morte de Carmona, pois queria chutar o Presidente do Concelho para cima e ocupar-lhe o lugar. Este último movimento tentou-o outra vez, com o respaldo de Craveiro Lopes, fazendo por apresentar-se como delfim e apressar a reforma do Chefe de Governo. Durante a década de Sessenta assumiu o papel de Reitor, mais do que o de figura do regime, procurando noutro flanco apoios para ascender à cadeira que sempre desejara.
    Por muito intimidante que Salazar fosse, acho que ele confunde suserviência com falta de ambição. Caeiro da Mata, Alberto dos Reis, Mário de Figueiredo, Leite Pinto, Duarte Pacheco... tudo Gente que dizia o que pensava ao patrão.

    Abraço, Mwu Caro Átrida

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  8. Obrigado pela opinião. :-)

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  9. Por Quem sois, Caríssimo Átrida! Mera rememoração de impressões emanadas de leituras...

    Ab.

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