Cargas Pesadas

De minha inclinação natural, tendo a preferir o lado da Polícia de Choque ao dos desgrenhados manifestantes que insultam e arremessam. Não por prezar a ilusão da força, mas porque o combate desigual que se prefigura antes de cada enfrentamento me leva a simpatizar com quem tem de aguentar disciplinadamente insultos e provocações sem poder ripostar antes de uma ordem, por vezes de remota proveniência, ser emitida. Além de ver nas protecções dos elementos da força policial uns resquícios das armaduras dos cavaleiros medievos que só a lembrança de servirem governos votados, isto é, ilegítimos, reconduz à triste realidade. Há, todavia, que não abstrair do substrato dos confrontos. E apesar de ser muito duvidoso que os provocadores de ontem fizessem parte dos que mais sofrem, é triste constatar que já não é notícia a carga que impõem aos portugueses, mas o é uma cargazinha de trazer por casa contra manifestantes repelentes. Ou seja, àquela gentalha, pela desgarrada condução do País, é prometida uma espécie de redenção sem arrependimento, apenas por, televisionada e festivamente, cavalgarem o Mal que se consubstancia no uso imoderado de cocktails, de preferência do tipo Molotov.
                                                   Polícia de Intervenção, de Blek le Rat

5 comentários:

  1. Caro Paulo


    Os agitadores são covardes porque escondem a cara, logo, não têm causa mas sim frustração. São desocupados preocupados em ferir quem menos tem culpa. A escumalha sabe que a polícia tem um código de ética e ordem ao invés dos intentores da desordem pública.

    abraço

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  2. Querido Paulo, subscrevo o essencial do post. No entanto não tenho grande simpatia pela Polícia de Choque e tanto ataca vândalos, como gente pacífica. Ainda hoje sofro dos resquícios de uma carga policial ocorrida na avenida da Liberdade no 1º de Dezembro de 1976, era menina e moça e a única arma que leva comigo era um livro "As vinhas da Ira"...Resultado cabeça partida e traumatismo no ombro direito, ainda hoje sofro do ombro.

    Beijinho

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  3. Meu Caro João Amorim,
    sou muito sensível à diferença que sublinha, talvez influenciado pela dicotomia de códigos de tratamento que distingue os combatentes privilegiados dos irregulares. Claro que em bandos destes nem a dignidade de guerrilheiro existe, por força da menoridade do risco e da mediocridade de ideais...

    Querida Ariel,
    não A sabia contestatária a esse ponto! Mas quase apostava em como não atirou nenhuma garrafa de gasolina a arder fosse a quem fosse. As minhas Coleguinhas do Liceu também ficaram fulas comigo quando disse que só tinham tido o que mereciam, a propósito dumas magueiradas do Corpo de Intervenção. Mas claro que, salvo algum eventual embrião de reumatismo daí resultante, não há desproporção comparável à da Sua asinha deitada a baixo, Estimada Águia!

    Beijinho e abraço

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  4. Gostava apenas de esclarecer que houve muitas pessoas que estavam pacificamente na manifestação e foram agredidas à bruta sem terem feito absolutamente nada.

    Conheço um fotografo que tem uma ferida na cabeça e estava apenas a observar a manifestação quando a policia de choque se aproximou dele e começou à paulada.

    A policia da próxima vez tem de agir de forma mais inteligente e não como touros bravos fora de controlo...

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  5. Meu Caro João José Horta Nobre,
    decerto essas infelicidades serão elencadas nos "danos colaterais"...
    É muito difícil distinguir na multidão quem é quem. A essência do conceito de carga é, precisamente, o ímpeto de uma massa contra a outra de modo a dispersar esta última. Claro que, como em todas as considerações grupais, tem de haver injustiças associadas.

    Abraço

    Abraço

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