Agitar a Malta

Desloquei-me ontem, com o Marcos Pinho de Escobar, ao Centro Cultural de Cascais, engodado pela aliciante temática que esperava ver abordada no lançamento de um livro sobre o Casticismo em Torga e Unamuno. Se muito aprendi com a Companhia, escasso proveito retirei do certame. Dos Escritores abordados pouco mais nos transmitiram que a leitura de um poema de cada; e quanto ao aspecto delimitador que prometia aproximá-los, quase ficou reduzido à troca de gentilezas do Autor e de um dos Apresentadores, os quais nos deram insistentemente a saber considerarem-se mutuamente Castiços. O livro será excelente e quem o fez até me pareceu ter Qualidade. Simplesmente, não nos brindaram com uma apresentação do volume, mas sim com um comício político. O ponto de partida até nem me desagradava, era o de atacar a actual tirania insensata, sob o pretexto de só pensar em números, esquecendo as Pessoas. Mas já não percebi os vivas à Democracia que acompanhavam a intenção. Não terá sido a tal senhora que nos trouxe a estas misérias? E não é a essência dela reduzir os seres humanos à expressão numérica que os seus votos ajudem a compor? Assim, temos o paradoxo equivalente ao do sujeito roubado que disso se queixasse, ao mesmo tempo que insistisse em dar vivas ao ladrão. E quando tentaram um duvidoso climax, com a leitura de uns versos de Torga em homenagem aos Vermelhos Espanhóis, apelando ao público para que entoasse em coro «não passarão!», tive de resistir, pensando na firme réplica do Tenente-Coronel Juan Arredondo Acuña ao General Miaja, que o intimava a juntar-se aos Republicanos: «A Minha Pátria, o Meu Deus e a minha consciência não o permitem». Com o que foi fuzilado pelas armas, enquanto que eu, mais afortunado, apenas o terei sido por alguns olhares que queriam ver ecos onde eu só podia arvorar nojo.
                                                     Propaganda, de Le-Quang-Ha

3 comentários:

  1. Já tenho agradecido à Providência estas oportunidades de me levantar e sair.
    Cumpts.

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  2. É, esta gente confunde tudo...É uma mistura de vagas referências históricas, políticas e culturais, lugares-comuns e pensamento (?) politicamente correcto...

    Ab
    Tiago

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  3. Meu Caro Bic,
    foi o que fizemos, logo que vimos a tal claraboia de oportunidade...

    E orquestração, Meu Caro Tiago, a inocência anda de todo arredada destas festarolas.

    Abraços

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