A Virgindade e os Seus Vampiros

Como não podia deixar de ser, vem um novo biógrafo, surge uma revelação sensacional: Michael Jackson morreu virgem! Volta e meia, sempre que não se imponha um rasto de relacionamentos, há-de aparecer algum espertalhão a aventar hipóteses dessas sobre celebridades extintas, sempre estimulantes que são da venda dos volumes. Lembro, a propósito, uma extraordinária crónica publicada anos atrás por Alberto Pimenta, onde, com equanimidade, é desancado um "investigador" que resolvera centrar o seu trabalho na hipótese de Jorge Luís Borges também ter morrido sem conhecer (no sentido bíblico do termo) Mulher. Há em tais casos uma perversão intrínseca da definição de Biografia. Esta deve dar conta dos feitos dos seus temas, deter-se nos eventuais não-feitos é redigir sobre o Vazio, quer dizer, uma fraude. Alegar-se-á que, no caso do cantor Pop, a opção encontraria pernas para andar por desmentir suspeitas de pedofilia. Não estou tão certo, a negação do coito não eliminaria a hipótese de contactos sexuais de outro tipo. E o cuidado com que o Autor exclui «homens, mulheres e crianças» da vida íntima do falecido artista quase leva a especular acerca da razão de não referir outros animais... De resto, somos reconduzidos à dúvida tão bem expressa por Pimenta, no escrito supra aludido, apenas por hipótese absurda: um masturbador morrerá virgem?
                                                  As Belas Relações, de Magritte

3 comentários:

  1. rudolfo moreira20/11/12, 15:15

    ele já era o homem sem cor e querem fazer dele o homem sem sexo

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  2. Bem quanto ao masturbador/a, eu arriscaria um "depende"...:))

    Beijinho Querido Paulo

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  3. Meu Caro Rudolfo,
    como disse, terá sido uma tentativa de branquear-lhe a sexualidade, pelo que uma coisa não anda tão longe da outra como isso...

    Querida Ariel,
    da... hã... colaboração, da... aham...concentração, ou do... huuuum... resultado?

    Abraço e beijinho

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