Letras e Números

A Secretaria de Estado da Cultura alija do lombo a carga ominosa de, por causa da penúria orçamental, ter cortado as verbas destinadas à legendagem dos filmes exibidos pela Cinemateca. Diz que esse é um problema daquela instituição, fazendo por escamotear que a criação de hábitos de leitura, mesmo os surgidos de fitas, é - ou deve ser . preocupação de qualquer executivo que se preze. Maria João Seixas, directora da casa roubada pode conviver bem com a restrição, porque, ao menos nas línguas mais conhecidas, a pureza da obra a manter até se conserva melhor sem qualquer tradução sempre à beira da traição. O que temo é que este seja o primeiro passo para a dobragem dos filmes a exibir, uma reivindicada indústria parasitária para a qual não faltariam dotações, em nome da aproximação do Público à Cultura. Perante a pavorosa perspectiva, antes as legendas, mais vale um pássaro na mão...
                                             O Pássaro das Letras, de Kristy Gimbert

7 comentários:

  1. Por uma vez Pacheco Pereira acertou na mouche num artigo que escreveu há já bastante tempo contra a dobragem das películas. Falava ele do horror que sentiu em Espanha ao ver num filme John Wayne gritar "Fuego!". :-D :-D

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  2. Um pavor. Ler é mais interpretativo do que ouvir, principalmente, do que, ouvir uma voz que não pertence ao corpo.

    abraço

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  3. rudolfo moreira09/10/12, 11:50

    o mau é não termos estes passarões na mão

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  4. A perspectiva/hipótese da dobragem que em boa hora não vingou por cá, parece-me de muito difícil retorno, mas... no creo en la brujas pero que las hay hay

    beijinho

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  5. Caríssimo Átrida,
    pois eu vivi semelhante ordália quando morava no Rio de Janeiro, com Humphry Bogart expressando~se à maneira das Terras de Vera Cruz...

    Meu Caro João Amorim,
    ora bem! Para além do atentado à Arte, somar-se-ia o desincentivo a pensar pela própria cabeça.

    Caro Rudolfo,
    esperemos que o voo desses seja o de Ícaro!

    Querida Ariel,
    não sei, não. Parece que continua activo um lóbi (ai, Bic Laranja, que palavra!), cuja face visível é António Pedro de Vasconcelos, danadinho para diminuir o desemprego entre os Actores com esse sinistro expediente, aduzindo como capa a defesa da Língua Portuguesa.

    Beijinhos e abraços

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  6. Caro Paulo, há males que vêm para bem... pelo menos ficamos livres, por um tempo, do metabrasileiro que os desacorditas nos impingem! Forte abraço!

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  7. Com efeito, Meu Caro Marcos, ver passar legendas em Acordês, esse idioma que nem é carne nem peixe, nem Português à Moda do Brasil, nem à maneira de Portugal, tiraria qualquer um do sério.
    Só quero ver como é que, sem legndagem, vão ser fruídos filmes Russos, ou Iranianos, por exemplo...

    Abraço

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