A Indefinição do Artigo



O passamento de Neil Armstrong reavivou-nos a memória sobre o Herói, uma das pessoas menos aluadas que saltaram para a ribalta, apesar da circunstância com que teve de conviver e o celebrizou. A correcção que, insistentemente, aduziu, de ter transmitido a impressão de ser o seu um pequeno passo para um homem e não, como passou à História, para o Homem, revela a renitência em, para lá dos aparelhos de ponta que pilotou, se deixar transportar pela embriaguez à base da própria glória. Ao recusar a personificação da Espécie no seu acto, introduziu uma travagem à sede de identificação com a Excelência e a superação de limites a que a maior parte dos humanos dispondo de tempo e interesse sucumbem. A mitificação generosa da viagem lunar havia, de resto, sido preparada pelos pioneiros do desembarque no satélite saídos da concepção de Hergé, os quais conviverão muito melhor com os holofotes e o simbolismo, estando, como estão, isentos de envelhecer e morrer. Já há quem reclame uma sepultura lunar para o Insigne Desaparecido. É estimável como projecto de homenagem, mas seria uma completa incongruência com a personalidade do Comandante da Apolo 11. «Cinzas às cinzas, Pó ao pó», como qualquer forma de inumação terrena, será muito mais consentânea com a essência cíclica de parte da condição que, dos feitos ao fim, é a dos nossos Melhores.

2 comentários:

  1. caro Paulo

    Muito objectiva a sua visão. Eu sempre tive uma reserva material sobre o altruísmo dos heróis do espaço não porque a suas epopeias não sejam inebriantes mas porque o autocolantezinho nos equipamentos, sejam estrelinhas brancas ou foices e martelos, não levanta dúvidas quanto à colheita de proveitos para os promotores.

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  2. Meu Caro João Amorim,
    de tal forma que até nas Aventuras de Tintin, se criou um poder estrangeiro concorrente com a Sildávia no projecto espacial...
    Claro que se pode dizer outro tanto das antigas peripécias marítimas concorrentes de Portugueses, Espanhóis, Holandeses e Ingleses, com erecção de padrões e tudo, mas a mediatização faz, como sugere, toda a diferença.

    Abraço

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