A Braços Com os Olímpicos

Na sequência do magnífico postal do BOS que precede, gostava de relembrar alguns dados que poderão esclarecer equívocos comuns em torno dos braços estendidos no Olimpismo. A saudação em si não era conotada, à partida, com uma ideologia. Os Escuteiros usavam-na, como mostra a fotografia de cima; e ainda subsiste em muitos países, nalgumas solenidades militares, como no Juramento de Bandeira, por cá. Já nos EUA, fora instituída, por força da acção de Francis Bellamy ainda no Séc. XIX, como a saudação civil à bandeira, ensinada e exortada nas democratíssimas escolas da Federação. Pode parecer estranho, sabendo-se que nos States aos civis e a militares à paisana ou descobertos também é permitida a continência castrense. Mas há uma razão - não o é em todos os ramos, a Marinha não o consente, logo impunha-se um símbolo de universalidade maior. Só em pleno conflito mundial, em 1942, o Congresso Americano, com puritanismo típico, aprovou resolução formal de a substituir pela mãozinha no coração que, hoje, vemos nos atletas medalhados de tais paragens e da qual temos de suportar a macaqueação por juventudes europeias ignaras e inocentes, que nem desconfiam de o gesto, por cá, ser apanágio de Maçonarias...


No Olimpismo, era a saudação habitual. Em vários Jogos atletas Franceses, Holandeses, Canadianos, entre outros, a adoptaram e ficou mesmo consagrada nos selos oficiais alusivos ao certame de 1924, em Paris. O próprio Jesse Owens se preparava para estender o braço, como lhe haviam ensinado em miúdo, até que algum elemento mais politizado da delegação Norte-Americana lhe sugeriu que, para evitar equívocos, levasse antes a mão à testa, mesmo carecida de pala. Ficou, sobreviva à avalanche do politicamente correcto, a estátua da Saudação Olímpica, pela Escultora Gra Rueb, em homenagem a um membro do Comité Holandês correspondente. Até quando se aguentará num mundo decadente onde, salvo no esbracejar preso a estas insignificâncias, «olímpico/a» passou a crismar o substantivo "indiferença" em vez de, como seria lógico, continuar a qualificar o esforço?

 

5 comentários:

  1. Muitos parabéns Paulo, uma maravilha de escrito. Mas também de si nada de menos seria de esperar.
    Being such privileges an intrinsic quality of yours, quite intelligent and assertive too:)
    Maria

    ResponderEliminar
  2. caro Paulo

    Esta saudação, assim como outros "gestos" gráficos – ascendentes da linguagem verbal – também é conhecida como Saudação Romana e tem mais de dois mil anitos. O punho cerrado com o braço estendido, da mesma forma, tinha, à época do império romano, a conotação de afastamento, desejo de más-vindas.

    ResponderEliminar
  3. Caríssimo Paulo, com o magnífico postal vejo que estás em grande forma! Saudações peroníssimas e de braço em alto!

    ResponderEliminar
  4. Olha o Paulo!!!
    E ainda tem tempo para escrever preciosidades.
    Abraço ao alto

    Legionário

    ResponderEliminar
  5. Querida Maria,
    muitíssimo obrigado, mas foram umas meras notas no sentido de desenganar a difundida concepção que dá o braço estendido como exclusivo de alguns regimes.

    Meu Caro João Amorim,
    foi a evocação do Império Romano que esteve presente em D`Annunzio, o reintrodutor da saudação como tal qualificada na política contemporânea.
    Em bom rigor, na Antiguidade, não era saudação genérica, parece ter sido reservada a juramentos e compromissos, como ainda hoje, um dos quais seria o dos gladiadores perante César. Mas até esta "quota" é controvertida.

    Caríssimo Marcos,
    só se, depois de tanto ver os múltiplos desportos de Londres 2012, reafinei o físico, numa versão benigna do psico-somatismo. Ou será do somato-psiquismo?

    Grande e Saudoso Legionário,
    infelizmente pouquíssimo tempo, venho cá de quando em vez. Mas se me forem prometidas Visitas Destas, farei por aumentar a assiduidade.

    Beijinhos e abraços

    ResponderEliminar