Psicanálise

«No geral, não há nada a dizer sobre mulheres sujeitas a estas sessões. Uma mulher entregue às mãos de psicanalistas fica definitivamente impró­pria para uso, o que vim a constatar inúmeras vezes. Este fenómeno não deve ser considerado como um efeito secundário da psicanálise, mas sim como a causa principal. Sobre o pretexto da reconstrução do eu, os psicanalistas procedem na verdade a uma escandalosa destruição do ser humano. Inocência, generosidade, pureza... tudo isto é rapidamen­te triturado por entre essas mãos grosseiras. Os psicanalistas, regala­damente remunerados, pretensiosos e estúpidos, exterminam de modo conclusivo toda a aptidão para o amor nos seus pacientes, tanto mental como física; comportam-se com efeito como verdadeiros inimigos da humanidade. Impiedosa escola de egoísmo, a psicanálise está apetrecha­da com o maior dos cinismos à conta das corajosas raparigas miseráveis para as transformar em ignóbeis parvalhonas de egocentrismo delirante, que pode apenas suscitar a mais profunda agonia. Não se deve confiar, qualquer que seja o caso, numa mulher que tenha passado pelas mãos de um psicanalista. A mesquinhez, o egoísmo, o disparate arrogante, a completa falta de sentido moral, a incapacidade crónica de amar: eis o retrato exaustivo de uma mulher “psicanalizada”.»

Michel Houellebecq
in “Extensão do Domínio da Luta”.

4 comentários:

  1. Isto é válido no caso das mulheres e dos homens!

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  2. O freudismo já tinha sido definitivamente arrumado por Robert Musil num conto muito engraçado sobre o Edipo. Mas como sabem durante séculos as pessoas foram condicionadas a pensar que a terra não é redonda, como hoje em dia há muitos por aí que pensam que o alá é um deus e tirar-lhes isso da caixa craneana ou outro mecanismo condicionável é muito difícil. O freudismo mais especificamente (e a psicanálise) é o grande desastre das sociedades ocidentais, pois que pode ser o desastre do elemento feminino.

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  3. Não estou d'acordo com as últimas cinco linhas do excerto. Desde que Freud foi viver para os E.U., decidindo introduzir no terreno a psicanálise generalizada, os psiquiatras começaram a nascer lá como cogumelos e diferentemente do que o autor diz sobre as mulheres analizadas (e homens mas em menor escala) elas não se tornam em mesquinhas, egoístas e agressivas. O que acontece é que os psis famosos desestruturam a personalidade de muitas das suas pacientes e os casos conhecidos que chegam aos jornais, fora os milhares que não chegam, são por demais evidentes mostrando à saciedade o terrível mal físico e mental que essas criaturas provocam na psique de seres fragilizados.

    Seria fastidioso enumerar as personagens conhecidas que foram literalmente trucidadas e refiro-me especìficamente aos E.U. Bastará um só exemplo de uma personagem mundialmente conhecida e adorada, para se ter a noção dos danos irreversíveis que essas mentes diabólicas provocam em pessoas sensíveis e carentes.

    A saudosa Marilyn conheceu Lee Strasberg em Hollywood. Este convenceu-a a mudar-se para Nova Iorque e a inscrever-se no seu Actor's Studio para melhorar as suas qualidades interpretativas. Ela assim fez. Após algumas aulas Lee convenceu-a a mudar-se para sua própria casa perto do Studio encurtando caminho e também a pretexto de "continuar as aulas" com ele e com sua mulher Paula, poupando tempo e simultâneamente aumentando os seus conhecimentos dramatúrgicos. Ela assim fez. Foi o princípio do seu triste fim.

    Já em sua casa, Lee aconselhou-a a consultar um famoso psiquiatra seu amigo que a ajudaria a "esquecer o seu passado traumático". Ela concordou. As sessões de psicanálise começaram e aumentaram ràpidamente. Marilyn deixou de ir às aulas e (segundo a filha de Lee) "dormia o dia inteiro, de noite na cama de dia no sofá da sala". Paula conluiada com o marido não mais largou Marilyn, fazendo-a tomar doses cavalares dos medicamentos receitados e sabe-se lá que mais. Marilyn definhava a olhos vistos. Porém 'escondida' em casa dos Strasberg e sob o efeito de pesadíssima medicação foi-se deixando ir abaixo mal conseguindo aguentar-se de pé, perdendo a sua anterior vivacidade e alegria de viver.

    A determinada altura - segundo seu próprio testemunho numa entrevista radiofónica gravada, que eu mesma ouvi - Lee sugere-lhe que visite Joan Crawford porque esta queria conhecê-la.
    Marilyn, num estado físico e psíquico miserável mas ainda com alguma lucidez, aceitou relutante. Pelas suas educadas palavras deu a entender a quem a entrevistava que Crawford era lésbica e queria mais do que a sua simples amizade... Marilyn disse-lhe que não gostava daquele género de relacionamento, especificando (para o entrevistador) que não apreciava mulheres. Ai o que ela foi dizer!! Digamos que a par da degradação física e mental que os Strasberg lhe haviam inculcado, a partir desse dia ela assinou a sua sentença de morte.

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  4. continuação do post anterior:

    Houve quem dissesse que enquanto Marilyn (fortemente sedada) permaneceu com os Strasberg, Paula 'aproveitou-se' da sua amiga sem que Marilyn se tivesse apercebido disso - daí a sugestão do casal para que a actriz visitasse Joan Crawford na esperança de que no regresso ela já estivesse suficientemente 'doutrinada', mas enganaram-se. Isto porque (invejosa e má, Miller dixit) caso Marilyn a denunciasse como lésbica, ela poder vingar-se difamando-a a ponto de a fazer perder o prestígio e adoração mundiais que possuía por direito próprio. E isto numa Hollywood então dominada por produtores e realizadores judeus, Lee incluído, com todo o poder do mundo (até sobre o próprio governo americano) que, como eles próprios afirmavam, podiam destruir a reputação de um actor ou actriz com um estalar de dedos. E fizeram-no a muitos/as.

    Paula raramente se mostrava em público e creio que só terá dado duas ou três entrevistas se tanto. A filha única do casal, Susan, também actriz, falou benzinho de Marilyn numa entrevista que concedeu anos após a morte daquela. Talvez não estivesse a par do mal que os pais haviam infligido à actriz. Ou talvez estivesse, quem sabe? Mas claro que Susan não iria dizer mal dos pais, por mais cenas esquisitas que pudesse ter presenciado.
    Paula Strasberg faleceu relativamente cedo. A filha Susan, depois de ter participado em alguns filmes morreu ainda nova, crê-se que por abuso de drogas. Também com aqueles pais não admira.

    Arthur Miller, seu terceiro e adorado marido, numa entrevista em directo numa televisão americana, falou entre outras coisas da personalidade de Marilyn mencionando a sua extrema fragilidade e nenhuma auto-estima. À pergunta de o quê ou quem provocou a morte precoce de sua ex-mulher, Miller afirmou sem hesitar: "Paula (Strasberg)... tinha muita influência sobre ela".

    Miller pouco mais apareceu nas televisões e jornais... Afastou-se do lime-light e dedicou-se à escrita. Casou depois com a viúva de Laurence Olivier vindo a falecer muitos anos depois.
    Maria

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