Houellebecq: "O Mapa e o Território"

Por largo tempo prevaleceu em alguns círculos a ideia de que Michel Houellebecq era um escritor pornográfico, um Henry Miller de segunda edição, enxertado em Sade e Laclos.
"O Mapa e o Território", que chegou há semanas aos escaparates portugueses, editado pela Alfaguara, com tradução de Pedro Tamen, veio revoltear esse entendimento simplista. O quinto romance de Houellebecq venceu o Goncourt, o mais importante prémio literário francês, e parece ter fixado definitivamente o autor como um romancista fundamental do nosso tempo. Com toda a justiça, diga-se.


O livro é uma paródia certeira ao mercado da arte e da cultura. Jed Martin, o protagonista, torna-se um artista de sucesso sem saber ler nem escrever, e pede a um escritor chamado Michel Houellebecq que lhe escreva o prefácio para o catálogo da sua exposição. Aberta assim a porta à auto-ironia mais desbragada, o livro dá-nos um Houellebecq-personagem essencialmente bebedolas e depressivo, embezerrado na sua misantropia — e que acaba por ser violentamente assassinado.
Michel Houellebecq é um escritor pessimista e desencantado, reaccionário até, que expõe a profunda solidão do homem actual, no quadro de um sistema político e económico risível. À sua maneira, escreve uma revolta contra o mundo moderno. As suas tiradas mais obscenas confundiram a crítica pouco especializada. Houellebecq pertence a uma raça de prosadores franceses que, na linha de Barbey d’Aurevilly, pensam como Joseph de Maistre e escrevem como o Marquês de Sade. É de ler agora, antes que seja tarde.

1 comentário:

  1. "pensam como Joseph de Maistre e escrevem como o Marquês de Sade."

    expressão interessante.

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