O Ingrato

Já não há quem aguente tanta sondagem. Sou naturalmente avesso a elas, ainda mais do que às eleições que bastas vezes lhes servem de pretexto, o que é dizer muito. E nem sequer por apontarem resultados penalizadores, já que não votarei nem tenho preferência pelos antagonistas que contam, no pleito em curso. Acontece que, para além de serem castelos no ar, sem comprovação da cientificidade de que se arrogam, salvo a aleatória concordância eventual trazida pelo Futuro, me parecem artificialismos que visam manter alguma excitação que o próprio acto eleitoral já não consegue por si só grangear. Um pouco como os grandes meios das fantasias que tentam suprir as equivalentes insuficiências em ordem ao coito.

Porém, há uma consulta de opinião que não engana: é a da auscultação do próprio interessado principal: quando o protodespejado de S. Bento já fala em sobreviver à conta da surpresa, a coisa está preta para as respectivas hostes. E desorienta o homem, coitado. Em vez de agradecer aos rivais terem posto figuras impopularíssimas que nunca ganharam uma eleição, mas as perderam, a criticá-lo, vem insurgir-se contra as chamadas ao palco do Dr. Balsemão e da Dr.ª Leite. Aquele que recusa a caridade não merece grande esmola. Nem sequer a da sobrevivência política.