Ensino e Educação em Portugal

Ter escrito sobre o tema em postal recente obriga-me a deixar estas notas. A análise completa da matéria pediria hoje menos a pena barbelada de Verney do que um computador de memória bastante para arquivar tanto disparate.
Foi moda a Educação ser o amor confesso dos governantes deste regime. Ora quando estes se empenham a fundo e em cheio no renascimento do que quer que seja, o mais certo é que liquidem de vez o objecto dos seus interesses. Nem os frontispícios escapam. Inchados de progressismo, apagaram o belo e aristotélico nome de liceu para riscar o país de escolas secundárias e, logo a seguir, escolas C+S E.B 2.3 — por um triz não incluíram raízes quadradas na denominação dos novos estabelecimentos.
Avultaram os «cientistas da educação», lidos em Glasersfeld. A ignorância alastrou e a indisciplina tomou conta das salas. Fixou-se como objectivo do ensino obrigatório ensinar a contar até dez pelos dedos — ou com recurso a calculadora. Os programas foram convenientemente politizados para produzir gerações de jovenzinhos republicanos, socialistas e laicos.



Entraram de pulular universidades novas. Anicharam-se por palacetes arrendados, à cata de clientes. Institutos superiores pujaram e intumesceram, centros modernos de todo o saber, espalhados por aldeias e vilórias. A oferta de cursos regurgitou, nada há que se não ensine e à farta, desde licenciaturas em jazz a mestrados em gestão de campos de golfe.
Aboliu-se entretanto a instrução clássica — e instituiu-se a educação moderna, com aquisição de competências e ciência a frouxo. O resultado está visto. Perdeu-se uma e não se ganhou a outra — se os alunos desconhecem a Filosofia, o Latim e até o Português, nem por isso dominam a Física, a Química ou a Biologia.
O nível de exigência é rasteiro. Nada de exames: parece que prejudicam o desenvolvimento cognitivo e podem fazer mal aos miolos e mais partes dos rapazes esfalfados. Nem memória, porque o decorar brutifica; nem leitura nem reflexão, porque a matéria só tem que entrar pelos ouvidos; nem o manejar linguagem com ideias nem ideias com linguagem.
Vejo o modo como os adolescentes se correspondem com mensagens de telemóvel, em código macacóide, e pressinto que a próxima geração já cresça com as patas da frente no solo. (Alguns de agora já ensaiam a rabiscar paredes.) O Vargas Llosa queixou-se do mesmo aqui há semanas. Mas os tratos de polé à língua materna vão dar-me outro postal.

4 comentários:

  1. À cautela, parece que retiraram há pouco o Camilo dos programas, devia ser Língua demasiado complexa para as criancinhas.

    Abraço, Meu Caro Bruno

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  2. "...Língua demasiado complexa...

    Ou talvez não! À cautela...

    Ab

    Tiago Santos

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  3. Destas não se pode dizer o mesmo das que acompanham os caldos de galinha no dito popular, Meu Caro Tiago.

    Ab.

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  4. Não há esperança para um sistema que substituiu Camões e Camilo por Sttau Monteiro e Saramago. Abraço.

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