Theirs But To Do And Die

Sim, mas a frase de Sir Winston dirigia-se aos Pilotos da RAF, isto é a quem tinha, na luta, uma hipótese de, com honra, escapar. Mesmo a mais acabada sinédoque do sacrifício no cumprimento do dever, a Carga da Brigada Ligeira, permitiu que Lord Cardigan e alguns dos seus Companheiros sobrevivessem à carnificina do Vale da Morte. O que comove é não terem procurado contestar um erro manifesto devido à precipitação de um mensageiro, por lhes haver sido comunicado como ordem. Em Fukushima há Cinquenta Condenados, sem engano possível, por se terem disposto a salvar os Outros. Sabem que, eles sim, não têm hipóteses. Se me toca ainda haver nos dias em que me arrasto no conforto do cepticismo estas Dignidades Redentoras do conceito de Homem, não posso deixar de lamentar que as protecções apropriadas à Sua função Os façam gravar-Se sem rosto visível nas nossas mentes, como se de terroristas - o Seu contrário - se tratasse. Tennyson, em título citado, encontrou aplicação ainda mais plena.

5 comentários:

  1. Mas têm. Rosto. Nome. História. E, mesmo assim, sonhos, seguramente.
    Devemos-lhes sustê-los na sua integridade existencial. Mantê-los connosco, pedir identidades civis, já que aladas lhes concedemos desde o início do susto.
    Devemos-lhe a paz que nos proporcionam.
    Vénia ao seu sacrifício.
    Dádiva suprema.

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  2. Querida Margarida,

    certamente que Lhes devemos o reconhecimento, tanto substantivo como formal. Por isso mesmo faz impressão que a imagem mais nítida que Deles nos fica Os oculte da identificação do tributo devido.

    Beijinho

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  3. Meu Caro Paulo:

    O abnegado sacrifício destes homens resume-se a um conceito muito Japonês — 義務, 'Gi'Mu' (lê-se Guimú) —, o qual, via de regra, se traduz por "dever", "obrigação" ou "compromisso", mas que, na verdade, é algo que vai bem além daquilo que estes conceitos invocam para nós, comuns mortais que ao Japão não pertencem — de certo modo como essa "Saudade" tão Portuguesa será, para nós , bem mais que uma certa "Nostalgia" (como alguns optam por displicentemente interpretar essa 'estrutura' da Alma Lusa, a que Pascoaes dedicou a essência da sua obra) — e que melhor faríamos por interpretar, por aproximação, por aquilo que numa certa acepção chamamos de 'face' — a tal que ninguém quer, ou deve, perder...

    Não será necessário recordar a seja quem for que este, mais que o país do Seppuku, coisa tão 'bárbara' sob o eventual escrutínio de um olhar menos atento, é também o país dos Shinpūren [神風連] e desses outros 'Shinpū' — 神風 —, cujo nome foi erroneamente interpretado pelos seus inimigos como 'Kamikaze' (os dois Kanji [caracteres] são os mesmos, note-se), e que, tal como tantos seus outros camaradas de armas por todo o Pacífico, aceitaram abnegadamente o impossível por missão.

    Sim. É um 'Gi'Mu' bem mais real que romântico, este, bem mais real e cruel na sua carnal expressão de um destino devastador, do que seja o que for que queiramos ou possamos dele fazer.
    E apenas como quem abre uma janela para o Inferno, atrevo-me a esclarecer que a raiz do primeiro Kanji que compõe esta palavra — 義, 'Gi' —, significa, na sua origem, 'solenidade'...
    Talvez ajude a compreender.

    Um Grande Abraço,

    Luís F. Afonso,
    em Kyushu, Sudoeste do Japão.

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  4. Que este acto de heroísmo colectivo que honra o Japão e perante o qual todos humildemente nos curvamos, seja o ponto de partida de uma profunda reflexão sobre os caminhos que o Mundo está a trilhar no respeito devido à sustentabilidade e razoabilidade da relação do Homem com o Planeta.
    Beijinho

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  5. Meu Caro Luís Afonso,
    muito obrigado pelo magnífico contributo explicativo. Há um filme que sempre me calou fundo, apesar de se desenrolar num meio infinitamente menos digno e de temer que a visão da indústria cinematográfica Norte-americana haja deformado o tema, como tantos outros. É «Yakuza», com Robert Mitchum. Fará o Amigo a caridade de dizer se a tal "ameaça da perda da face" que envolve a acção de tantos subditos Nipónicos se acha ali, ao menos aproximadamente retratada.

    Amen, Querida Ariel. É a eterna hipnose que nas galinhas dá para fixar o risco e nos homens para se aventurarem a tentar manobrar forças que nem sempre as suas fraquezas permitem controlar. Os Gregos Antigos sabiam-no e, nos nossos dias, os Irmãos Junger não cessaram de para o problema alertar.

    Beijinho e forte abraço

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