Quando o que se lê não é exactamente o que se vê


A notícia caiu como uma bomba. Uma sondagem do Le Parisien colocou Marine Le Pen no primeiro lugar das intenções de voto para as próximas eleições presidenciais francesas. Os sinos tocaram a rebate e a notícia percorreu a Europa, anunciando nova ascensão desse bicho maléfico. A líder da terrível extrema-direita racista! O regresso do nazi-fascismo! O drama, a tragédia, o horror! Já estou a imaginar o filme: um novo grande armée em passo de ganso pelos Campos Elísios! Armas químicas usadas nos banlieues. Gregos, irlandeses e portugueses arrastados para campos de trabalho por não cumprirem as metas do défice. A invasão do Magrebe! A 4ª Guerra Mundial logo a seguir!

Como se vê, esta sondagem é um festim para as redacções da imprensa de referência, garantindo análises, debates e avisos mais ou menos enviesados para muitas semanas. A realidade, essa, é diferente. O programa do Front National, por exemplo, não difere muito de um partido de direita conservadora (não confundir com liberal), e a sua praxis está a milhas do sensacionalismo de uma Lega Nord, que participa na coligação governamental italiana. Quanto a Marine, apesar do sonante apelido e da sigla que representa, não é exactamente um Mussolini de saias. Pelo contrário, é conhecida precisamente pela sua moderação e desejo de respeitabilidade, tendo motivado cisões e dissidências entre as alas mais radicais do partido. A esse propósito, resgato o interessante artigo publicado pelo Duarte n'O Diabo no último mês de Janeiro, que cita declarações de Marine sobre o 25 de Abril português: “Na história política de Portugal, Mário Soares teve um papel fundamental, positivo, para o fim do regime, em 1974, e na luta contra o comunismo, a seguir”. Ou ainda: “Sou democrata e respeito a soberania popular: a revolução dos cravos respondeu ao desejo da maioria dos portugueses”. É caso para perguntar onde param os fascistas. A polícia (do pensamento), essa, acho que já todos sabemos onde está.

5 comentários:

  1. Só me trazes razões para não gostar deste rebento do Tio João Maria, uma embirração antiga, de resto.
    Abraço, Meu Caro Miguel

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  2. E não esquecer o apoio tácito e mesmo declarado de muitos sectores da comunidade judaica francesa.

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  3. Excelente Meu Caro Miguel! Com "fascistas" como estes/esta, quem é que precisa de comunistas? Abraço amigo.

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  4. Que maravilha de notícia. Eles borram as cuecas de medo só de saber que a qualquer instante o Front national poderá ser governo.

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  5. Caro Paulo,
    Jean-Marie Le Pen podia ter muitos defeitos, e tinha-os, mas era um político à antiga, com ideias e princípios. Já a sua filha Marine, não sei se tem uma coisa ou outra. Mas pelo menos tem uma aparência simpática (que é o que mais conta nestes tempos), pelo que vai cavalgando a insatisfação e as sondagens.

    Caro Átrida,
    Não é à toa que muitos dos líderes da «extrema-direita» europeia, ou lá como lhes queiram chamar, têm empreendido peregrinações à Terra Santa. E parece que não vão lá para ver a Gruta da Natividade.

    Caro Marcos,
    É bem verdade. A imprensa é que insiste em ver fascistas em todo o lado.

    Caro Skedsen,
    A procissão ainda vai no adro. Parece-me que se vão comprar muitas fraldas por aí...

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