De Marca Maior

Num livro aparentemente a ele pouco predestinado, «Os Amores de Camilo» de Alberto Pimentel, encontro este ex-libris. E desato a divagar sobre como uma marca de personalidade expressa na posse - e dela expressiva - pode submeter-se, ao ponto de o seu utilizador se identificar completamente com uma transformação colectiva, mais fortemente do que qualquer totalitarismo, mesmo os dos Maos deste mundo, alcançaram.
Não será uma libertação mais alta, a da auto-imputação de importância, considerar um objecto privado como o livro, por si só um prolongamento do espírito individual, na medida em que é revelador de critério particular, aquela que prescinde de si, do nome aos brasões, para se simbolizar plenamente numa mobilização da Comunidade contra o que se vê como uma opressão?
Quanto invejei semelhante desapego!

3 comentários:

  1. "num livro aparentemente a ele pouco predestinado", mas ainda assim deixa que pensar :-)
    ut videam - que eu veja
    Segundo Tomás Ribeiro - prefácio da 3ª edição de "O Romance dum Homem Rico" em 1890 - esta seria a frase mais repetida pelo seu amigo Camilo Castelo Branco.
    «Que eu veja! pouquíssimo embora! o absolutamente indispensável para poder trabalhar, e encerrem-me, por toda a vida, no cárcere onde escrevi O Romance dum Homem Rico!»
    Abraço

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  2. Grande postal, Caro Paulo!
    Cá para mim, o humilde sacrifício do eu, através do seu apagamento, em prol do bem comum, corporizado, como aqui, numa causa nacional, é, sem dúvida, a maior forma de elevação do espírito. Deus me dê forças para o fazer.
    Abraço!

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  3. Meu Caro Pedro Barbosa Pinto,
    nada como aprender com comentários como o do Amigo! Com efeito, desconhecia que Camilo costumasse proferir esta frase, embora soubesse do constante pavor de cegar completamente em que viveu bastante tempo. Costuma, aliás, ser aduzido como uma das causas do suicídio, a par do desgosto com o estado mental de um dos filhos, o que me faz aproximar a situação da de Montherlant, igualmente incapar de suportar a perda da vista e precipitando a saída deste mundo.
    Neste livrinho o Autor aventa outra possibilidade, uma certa ideia fixa que o Grande Escritor terá desenvolvido à beira do fim, a de estar rodeado de gente que não gostava dele. Enfim, quem sabe?

    Meu Caro João,
    além de que, sendo uma biblioteca o meio mais idóneo para comunhão de espíritos com os que se dignaram passá-los ao papel e com outros que a esses tributem admiração, ganha uma amplitude mais vasta, quando se estende, através da diluição num acontecimento redentor, irmanando a todo um povo, ao menos potencialmente.

    Abraços

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