Tristeza Que Não Paga a Dívida

Silva Lopes, personagem por quem tenho algum respeito, sugere a responsabilização dos políticos pela prodigalidade no aumento dos gastos públicos. A intenção é louvável, o alcance prático dela nulo. No panorama da actual (falta de) classe política o banco de suplentes de onde saltassem gastadores ainda mais empenhados é imenso. Pelo que a sanção cívica de ineligibilidade temporária pouco mais faria do que ser uma casuística limitação de mandatos.
Só uma ameaça real poderia, talvez, levar as crias dos partidos ao bom caminho. Mas não parece praticável. Nos EUA, após a vitória parlamentar Republicana de 1994, os apoiantes mais extremados de Newt Gingrich tentaram criminalizar os responsáveis pelo deficit. Não resultou e por cá resultaria menos, dado que a construção de prisões para albergar os nossos gastadores excessivos atingiria proporções tais que se teria de pedir emprestado muito mais dinheiro. Além de que, sendo as sanções para crimes mais violentos pouco menos que simbólicas, é duvidoso que o índice de reprovação moral permitisse encarcerar os mãos-largas que nos oprimem.


Só uma ruptura constitucional que emprateleirasse a generalidade dos actuais mandantes permitiria, a um tempo, alguma penalização deles e a recuperação das contas. E não venham, como ainda hoje na padaria que frequento, tentar branquear a desvergonha das imposições em curso, dizendo que Salazar também exigiu sacrifícios. O Especialista de Coimbra consertou, dando o exemplo, o que outros, por sinal também os avozinhos destes, tinham estragado. Os opressores vigentes tentam prolongar o que eles próprios e os seus duplos vêm fazendo, distribuindo desproporcionadamente a carga e permanecendo num estilo de vida pública obsceno.
A pintura é «A Espada de Dâmocles», de Richard Westall. Mas seria vão pretender um rebate de consciência similar dos governantes de hoje.

6 comentários:

  1. Paulo, concordo que a falta de vergonha é o traço dominante na personalidade dos nossos políticos de hoje (ou de sempre?) Mas também acho que muitos deles lidam mal com a crítica, lidariam pior com uma humilhação pública e concertada, e lidariam pessimamente com o afastamento puro e simples da vida política (sua única fonte de proventos, e que proventos!). Depois, talvez o exemplo intimidasse os candidatos a sucessores. Quanto a nós, governados e vítimas, não deixa de parecer de elementar justiça e bom senso que se erradiquem os incompetentes que não sabem gerir os nossos impostos e os corruptos que os utilizam em proveito próprio.
    P.S.: Que bom vê-lo de volta a estas lides, Paulo! :-)))

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  2. Querida Luísa,
    Acha? Não criaria uma espécie de rotatividade que, de forma conivente, distribuísse entre eles os períodos de ribalta e os de gozo dos proventos das malfeitorias?

    Mas só o gosto de Consigo conversar já valeu esta decisão.

    Beijinho

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  3. Se a coisa já vai ao ponte de se branquear com Salazar...
    Cumpts.

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  4. Está o Caríssimo Bic a ver?
    O pobre Estadista passa de "Besta Negra" a "Omo que lava mais branco".
    Mas concordo que os adeptos desta apagada e vil tisteza parecem desesperados.
    Abraço

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  5. Paulo, a malta :) nas padarias e nos cafés normalmente tem sempre o remédio para todos os males, desde que nos lhes toque a eles, claro!....

    :)))

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  6. Querida Ariel,
    pior só nas tertúlias: nas minhas já salvámos o País e o Mundo milhentas vezes, ao ponto de nos esquecermos de nós próprios!
    Beijinho

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