A Bóia de Salvamento


Tempo houve, o imediatamente posterior à abrilada de 1974, em que era chic perguntar hostensivamente já foi ver «O Último Tango em Paris?». Emanava da inocência das proibições e até da do embarque em certezas libertadoras. Não era grande filme, com o que se produz hoje sobre o prazer, parece-nos, à distância, algo enjoativo e, na sua univocidade, até ingénuo. Brando libertou-se aí de um declínio que se temia, depois do brilhantismo da década de 1960, ficando assim uma espécie de transição sufragada pelo público para as interpretações cabotinas mas inolvidáveis de «O Padrinho» e de «Apocalipse Now». Da Actriz que com ele contracenou falou-se sempre muito menos, apesar das adesões da altura, muito motivadas pela manteiga. Uma beleza muito moderada e arredondada que naquela entrega jogou o seu trunfo maior, em idade muito precoce. Quer a ausência de vocação para starlette, quer a imagem eternamente colada a essa aparição perdurando na mente dos espectadores ter-lhe-ão tolhido uma carreira que, diga-se, nunca pareceu, para os mais frios, prometida a altos voos. Hoje Maria Schneider morreu, também cedo, aos 58 anos. Talvez esta circunstância a tenha, por sua vez, salvo, pois grangeará, possivelmente, numa geração anterior à minha o tributo que a melancolia dos assaltos nostálgicos e da perda de património afectivo costumam despertar. É um fim que, no entanto, pode funcionar como um estímulo de uma categoria etária ameaçada pelo doloroso desvanecer dos resquícios do entusiasmo. Já é qualquer coisa.

2 comentários:

  1. R.I.P.
    Estudió en un Colegio de Monjas de Barcelona.

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  2. Não sabia, Caríssimo Filomeno.
    Talvez isso explique um pouco toda a negação à posteriori, em que expressava repulsa por ter alinhado nesse filme célebre com todas as indicações do realizador que, inclusivé, insinuava tê-la forçado.

    Abraço

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