Anatomia Dum Ridículo

Eu até concordo que nas relações entre Estados não se deva, ao contrário do que é abusivamente corriqueiro, vilipendiar a natureza do regime do outro, ou as características pessoais dos seus líderes. Eu até sei que ridículo, na boca do Sr. Sócrates é pouco mais do que um bordão linguístico num político de léxico curto, que já usou a palavra para classificar as conclusões da comissão parlamentar de inquérito ao caso PT/TVI e para se referir às desconfianças sobre pressões de Obama a países europeus. Eu até acho que o PM está sinceramente satisfeito por antever o chuto/desmentido de si que quase toda a gente espera para Khadaffi. E até concedo que o elogio de há uns anos não passasse de frase de circunstância duma diplomacia oleosa, o que não admira, estando em jogo petróleo.
Mas, tudo considerado, gostaria que o nosso chefe de governo estendesse a designação ridicula(rizante) a todos os que, da sua banda, se deleitam em denegrir Salazar por haver permitido que a bandeira nacional flutuasse a meia-haste, cumprindo uma regra do Protocolo de Estado, na ocasião da morte de Hitler; ou aos que do caso retiram conclusões absurdas de simpatia, quando escassas semanas antes a mesma havia sido aplicada no falecimento de Roosevelt.
O maior ridículo não é a amnésia selectiva para furtar-se a responsabilidades, mas a adulteração da História com interpretações que a distorcem ao sabor das vontades e das inclinações.

5 comentários:

  1. Concordo consigo, Paulo. A gente pode fingir que não se lembra. Mas negar ou alterar o sentido dos factos é que não. Nesse particular (mas não só nesse; em muitos outros), acho que o actual PM, mais do que simplesmente ilustrar, encarna verdadeiramente a noção do ridículo profundíssimo. ;-)

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  2. Titulei pensando no conceito, Querida Luísa, mas transportando-me à pessoa, não tenho dúvida em subscrever o que nos diz. Curiosos são os ares de prima dona ofendida que o político em questão adopta quando debita estas qualificações que também são muito confissões.

    Beijinho

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  3. Caro Paulo:
    Bravo!
    Tudo pela Verdade Histórica, nada contra a Verdade Histórica.
    Abração!

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  4. Caro Paulo: na mosca! E muito bem lembrado o caso de Salazar. Como sempre, dois pesos e duas medidas. Abraço amigo.

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  5. A Verdade, Estimadíssimo João, sempre foi muito desdenhada, desde que Jesus se calou à pergunta de Pilatos sobre o que ela era...
    Contra aqueles que aí detectam embaraço, tenho a convicção de que era simplesmente a incomensurável Piedade Divina para com a abjecção que é desistir de A reconhecer.

    É uma linha de força pós-abrilista, Meu Caro Marcos. Mas este blogue está cá para correctivo dessas discrepâncias.

    Abraços

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