Ai, Sesta!

Leitura da breve síntese de Machado Pires sobre o carácter português. Sendo céptico quanto a rotulações de colectividades tão grandes como são os Povos, aceito, não obstante, a validade das formulações que vingam nessas sociedades, no sentido de cada qual se reconhecer um tom específico. Aquilo que se generaliza como o pensar de si - e do seu - colectivo é dos indicadores mais seguros da especificidade actual de cada nação.
Assim, a mitificação da Saudade no mundo luso, não a vejo como a presentificação avara do Passado, mas como o pretexto aceitável para abdicar do esforço enquadrado rumo ao Futuro, na medida em que é deixada à a costela vindoura do Destino a pilotagem pelas barras (pesadas) que sejamos levados a fazer atravessar este eterno rectângulo de fadistas.
Não é a Preguiça que paralisa individualmente, conforme demonstram o labor emigrante, o talento comercial e o esforço operário no que resta fora dos Serviços, como a Construção. É sim o pecado que inicialmente lhe ocupava o lugar, a Acedia, a qual impede a tomada de posições arrojadas contra o que está, sempre à espera que um carisma pessoal com fumos de Rei perdido em África trate do assunto em seu lugar.
Esta delegação no imaterial encontra a condição agravante em outro traço propalado, a adaptabilidade, que, quando aplicada ao Tempo em vez de ao Espaço, estimula unicamente o derrotismo que se compensa injectando Sonho para a veia, sem perceber que o onirismo tem o seu momento próprio na sonolência, mesmo que seja a modorra do abatimento, travão maior do acto de levantar.

A obra reproduzida, oportunamente sem título em razão da indefinição focada, é de Adelino Ângelo.

5 comentários:

  1. Antes sobre um País (de)Lapidado, Caro João.
    Abraço

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  2. Ah! Ah! Ah! Ambas as coisas, então.
    Abração.

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  3. Messianismo e capacidade de adaptação. Certíssimo.
    A primeira é a que resta à gente porque os camaleões das cores partidárias tomam em exclusivo cá no burgo a segunda atrofiando os demais.
    Eu explico.
    Tome o aborto gráfico, p. ex. (monomania minha agora, desculpe): quantos camaleões ouviu já calarem-se sobre dito aborto depois de muito contrariamente a ele troarem? Quantos ouve hoje nos media sem ser a favor? E quanta gente ressona em cliques no nevoeiro das redes sociais contra o dito aborto, fazendo conta num ciber-messias qualquer que mude as coisas?
    Bem vê o meu Amigo como por cá o messianismo prospera com camaleões, tanto como os camaleões vão prosperando como messias. É só irem pondo o avental... O sobejante são bisonhos nutrindo democraticamente cadernos eleitorais, ferrados com chipos em cidadanesco cartão do mesmo plastico do daquele saco brasileiro que se vende ao sábado. Já se tinha visto no caso do outro aborto como a treta democrática faz que vai e depois pára o baile (os referendos). Agir em contrário vai-se tornando cada vez mais difícil. Compreende assim Vossemecê, com estas ordens de messias e de cidadões, a impossível missão que é colher 35.000 assinaturas através dum simples impresso com o nome, nº de cidadão e nº de eleitor (sempre há-de ir servindo para alguma coisa), digitalizá-lo e remetê-lo electronicamente para ilcao@cedilha.net ? Como vê, o exemplo demonstra a sua tese. E já agora perdoe-me testá-la: não quererão os 'jovens' e estimadas famílias e amigos adicionar o emblema nas respectivas lapelas?
    O meu bnevolente Amigo sabe que não sou destas coisas, mas em tempos pediu-me dez palavras e a pimeira que saiu me foi agir.
    Abraço :)

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  4. Por outro lado, Amigo Bic, podemos reciclar a tramóia que tão bem descreveu e procurar partir-lhes a loiça sem o fazer ainda mais â base pessoal destes restos lusitanos, omnivilipendiada sob o estigma de "eleitorado".
    A frase do Caríssimo Bic acerca de camaleões e messias de pacotilha merece ser epígrafe de um estudo capaz de zoologia política.
    Quanto à pregadeira do bom caminho, por mim não tem dúvida. Conhecendo os Outros, também não me parece que haja quem objecte. Vou falar com o Director do estádio, o Miguel Vaz, para exibirmos doravante a marca da honra.
    Abraço

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